Sábado, 29 de Dezembro de 2012

Ler vários livros ao mesmo tempo, ora um ora outro, faz acontecer de encontrarmos um mesmo assunto discutido por autores diferentes e com pontos de vista também diversos. Isso é bom. Mas quando se está lendo concomitantemente um tema edificante, espiritual, e outro uma aventura real desta vida, com suas mazelas, a coisa fica difícil de administrar.

Como comentei outro dia estou lendo Castelo Interior, de santa Tereza D’Ávila, que neste trecho me ensinou: “Quero dizer-vos que este castelo tão resplandecente e formoso, esta pérola oriental, esta árvore de vida, está plantada nas mesmas águas vivas da Vida, que é Deus, mas quando tal alma cai em pecado mortal não há trevas mais tenebrosas, nem coisa tão escura. Basta saber que, estando o mesmo Sol, que lhe dava tanto resplendor e formosura no centro da sua alma, todavia é como se ali não estivesse”. A santa lembra que viver apartado do que Deus nos ensinou como modelo de viver é levar uma existência sem luz.

Mas estou lendo também A Águia Pousou, de Jack Higgins, que narra um episódio da 2ª  Grande Guerra, o projeto alemão de sequestrar Wiston Churchill, primeiro-ministro britânico. Um livro assim lê-se com rapidez, não precisa das frequentes paradas para reflexão que o outro exige. Estou no ponto em que um oficial alemão escolhe o grupo e os meios de entrar no norte da Inglaterra durante os dias em que o alvo estará visitando o local. Mas foi na narração do encontro deste oficial com o famigerado Himmler, Reichsführer das SS, quando é levado aos calabouços da gestapo, que lembrei como as almas podem ficar negras. Precisa ter estômago para ler isso:

“Era uma cela de aparência bastante convencional. Havia uma viga de um lado ao outro, próximo a parede da qual pendiam correntes com estribos. A parede tinha uma superfície áspera e cheia de marcas.

- O que acontece aqui?

- O suspeito é suspenso por esses estribos e liga-se a eletricidade. Lançamos baldes d’água na parede para aumentar a condutividade. Quando com o choque ele se apoia a parede... se olhar bem verá o quero dizer.

A superfície mal-acabada era, de fato, uma pátina de impressões palmares.

- A Inquisição teria sentido orgulho de vocês”.

Quem somos afinal, animais ou anjos?



publicado por joseadal às 12:06
Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2012

Vou lhe falar de algo que aconteceu há muito tempo.

“E assim começo a cumpri-la hoje, dia da Santíssima Trindade, ano de 1577, neste mosteiro de S. José do Carmo, em Toledo, onde estou presentemente, sujeitando-me em tudo o que disser ao parecer de quem mo manda escrever, que são pessoas de grandes letras”.

Palavras alinhavadas por santa Tereza de Jesus, ou santa Tereza d'Ávila, na Espanha, em tempo de intensa religiosidade, no Brasil representado pela obra de educação levada a efeito pelos jesuítas em cinco escolas elementares (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia). Ela foi canonizada em 1662. No dia 27 de setembro de 1970, o papa Paulo VI conferiu-lhe o título de Doutora da Igreja.

O livro que santa Tereza escreveu é, O Castelo Interior. Não foi fácil para ela começar a encher uma folha de papel em branco com pensamentos e reflexões.

“Estando eu hoje suplicando a Nosso Senhor que falasse por mim, porque eu não atinava com coisa que dissesse, nem como começar a cumprir a obediência, ofereceu-se-me o que agora direi para começar com algum fundamento. É considerar a nossa alma como um castelo todo ele de um diamante ou mui claro cristal, onde há muitos aposentos, assim como no Céu há muitas moradas”.

Imagine termos dentro de nós um diamante do nosso tamanho! Entretanto, a mor parte de nós desconhece esse tesouro.

“Não é pequena lástima e confusão que, por nossa culpa, não nos entendamos a nós mesmos, nem saibamos quem somos. Pois, grande estupidez, sem comparação, há em nós quando não procuramos saber que coisa somos e só nos detemos neste corpo; e assim, só a vulto sabemos que temos alma, porque o ouvimos e porque nô-lo diz a fé. Mas, que bens pode haver nesta Alma?”

Santa Tereza nos convida a entrar e conhecer nossa alma, vou com ela e o que aprender conto pra você.



publicado por joseadal às 11:40
Terça-feira, 25 de Dezembro de 2012

Minha filha mais velha foi taxativa: o senhor tem idéias esotéricas e isso pode confundir as crianças.

Contrafeito, me debruço no que ensinou o velho Platão sobre os que estudam 'outras coisas'.

"Por isso, também, aquele que foi ofuscado [por 'coisas' que o pai anda falando] não consegue compreender que o anteriormente visto é apenas uma sombra das coisas. É verdade que agora o liberto vê algo diferente das sombras, porém, [quando fala para a filha] tudo parece um emaranhado sem par, em comparação com o qual as sombras mostram contornos firmes".

Diz você: - Ao invés de falar no geral dê um exemplo claro, seu Zé!

Não dou! Vai que ela lê seu pai, que a carregou nas costas pelas ladeiras da Bahia, dizendo com todas as letras que o que ela "acredita de todo coração e de toda mente" e ensina aos seus filhos, meus dois lindos netos, é uma 'sombra' e que a 'verdade', meio complicada, é outra? 

E tem mais! A 'verdade' que aprendi ainda não é a "mais desvelada".

Martin Heidegger explicando a Alegoria da Caverna, de Platão, diz:

"Por isso, a palavra 'verdade' ocorre, novamente, agora no comparativo, como o 'mais desvelado'. Pois mesmo o homem liberto de suas correntes ainda se engana ao avaliar o 'verdadeiro', porque a ele falta a condição prévia do 'avaliar', a liberdade. É verdade que a retirada das correntes traz uma liberação. Contudo, estar desacorrentado ainda não é gozar da verdadeira liberdade".

Como é que eu, que minha filha chama de esotérico, pode querer ensinar a ela: você está 'vendo errado', filha!; se estou longe de conseguir 'ver o certo'.



publicado por joseadal às 19:08
Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2012

Que valor tem se conhecer a mitologia?

Muitos, um deles é que esses mitos são hierofanias, a capacidade das palavras se transmutarem em outra coisas em nossa mente. Um sentimento evanescente como o amor apaixonado pode ser representado por um belo jovem com um arco e flechas, Eros. O livro Mitologia Grega (volume I) diz: “Um objeto ou uma emoção não se tornam reais a não ser na medida em que repetem um arquétipo”.

Na ilha de Creta os arqueólogos desenterraram uma cidadela, Cnossos. A mitologia diz que nessa ilha havia um labirinto, os arqueologistas descobriram um palácio tão grande que era um lugar fácil de se perder. O rei Minos tinha uma bela esposa, Pasifae, mas sua paixão eram touradas e tinha especial predileção por um animal. A mulher fica presa a obsessão pelo touro e se prostitui com ele, desta relação nasce um monstro, Minotauro. Minos o coloca no labirinto e o alimenta com o sacrifício de jovens. O jovem Teseu vai ser sacrificado, mas a jovem Ariadne por amor lhe dá uma linha que o ajuda a encontrar o caminho para fugirem do labirinto. Com uma parábola assim, os elementos de uma tragédia familiar ficam mais visíveis.

A desatenção de um dos cônjuges pode levar o outro a uma relação adúltera. Esse caso pode gerar uma situação terrível que geralmente é escondida. Para manter essa mentira os filhos acabam sendo sacrificados. Só o amor verdadeiro pode encontrar a saída deste labirinto. Percebeu como a mitologia dramatiza com personagens o torvelinho de emoções que cercam um pecado, um erro contra a natureza e Deus?


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publicado por joseadal às 21:03
Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2012

Moisés, que significa Salvo das Águas, foi o menino encontrado pela filha do Faraó numa cestinha boiando no rio Nilo. Mas este caso não é uma lenda como não foi um acontecimento excepcional. No livro O Egípcio - que peguei numa biblioteca que dá e recebe livros numa lanchonete a beira da estrada Teresópolis-Nova Friburgo - o médico Sinuhe conta de sua infância:

“Nasci durante o reinado do grande faraó Amenhotep III. O dia do meu nascimento é desconhecido, pois cheguei vogando pelo Nilo abaixo num pequeno barco de junco calafetado de breu, e minha mãe me achou entre caniços da margem bem perto de sua casa. Tão quieto e imóvel estava que ela pensou que eu estava morto. Levou-me para dentro de casa e soprou dentro de minha boca até vagir. Não me disseram a verdade senão depois que os cachos dos meus cabelos foram cortados, quando me tornei garoto. De onde vim e quem tinham sido meus pais, nunca vim a saber.

Não fui o único a ser transportado rio abaixo num barquinho alcatroado. Tebas era uma grande cidade com edifícios majestosos e choças de barro onde se aglomeravam estrangeiros pobres, operários. Muita gente pobre se desfazia dos filhos abandonando-os à sorte, aos deuses do rio Nilo, confiando que eles ajudariam e dariam uma melhor vida a criança. Mulheres ricas também, estando o marido em viagem abandonavam no rio a prova de seu adultério”.

O que se vê na TV hoje em dia não é uma novidade: mães jogando os filhos no lixo ou num rio sujo. Talvez as daquele tempo fossem mais humanas confeccionando o bercinho flutuante para dar uma chance ao filho.

Foi assim que Moisés sobreviveu e se tornou o líder e legislador do povo de Israel e sua memória é reverenciada até hoje.



publicado por joseadal às 01:27
Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2012

A cultura grega varou as fronteiras da Macedônia e do Peloponeso e se espalhou pelo mundo. Parte importante dessa cultura eram seus deuses. Quando Jesus andou na Palestina quem governava o mundo eram os romanos, mas a língua que se falava desde a Espanha até o Egito e na terra dos judeus era recheada de palavras e expressões gregas. A religião dos gregos havia se modificado muito do tempo de Homero ao do nazareno, mas ainda influia na atitude das pessoas.

Quando escreveu a Ilíada, 850 anos a.C, o poeta descreveu um mundo invisível povoado de deuses e deusas que eram muito parecidos com humanos daquela época. Três séculos depois já não se acreditava que Zeus fosse aquele sedutor de deusas e mulheres, assim o escritor Xenófanes diz: “Nos poemas de Homero os deuses fazem tudo quanto os homens considerariam vergonhoso: adultério, roubo e trapaças. Mas não, há um deus acima de todos os deuses e homens; nem sua forma nem seu pensamento se assemelham aos mortais”. Em 350 uma escola de filósofos chamada Epicurismo já tentava libertar o homem do temor dos deuses e lançava dúvidas sobre a existência de Deus. Epicuro escreveu em Ética: “Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer. Se quer e pode, o que é a única coisas compatível com Deus, donde provém a existência dos males?” Então, por volta de 150 a.C surge outra escola de pensadores chamada Evemorismo ensinando ao povo que “a Mitologia é reminiscência de reis e heróis primitivos, personagens autenticamente históricos”. Estas citações foram tiradas do livro Mitologia Grega, do professor Junito de Souza Brandão.

(brotando no musgo preso a pedra a planta se agarra a vida, na serra do Caparaó) 

Jesus pregou somente aos judeus que estavam acostumados a crer em um único Deus, o que lhe facilitou a pregação das Boas novas. Mas como seus discípulos foram mandados pregar a todas as nações, apóstolos como Paulo que ensinaram a doutrina do Cristo ressuscitado em cidades gregas encontraram muita incompreensão e perseguição do povo que ainda adorava ou respeitava aquele panteão de deuses.


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publicado por joseadal às 01:57
Terça-feira, 11 de Dezembro de 2012

O estudo das religiões cristãs revela que a ceia de Cristo, a missa ou comunhão do pão e do vinho, tem rituais diversos. Há aquelas que a celebram mensalmente e as que o fazem anualmente. Mas apenas na Igreja Católica o ritual envolve uma comunhão, nas demais é feito em lembrança do sacrifício que o enviado de Deus fez por nós.

Hoje, em dois lugares, li a respeito da transubstanciação, o rito que faz a dolorosa entrega da vida de Jesus se repetir diante do crente. Um foi na revista Católicos comentando a última encíclica de João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia; “Há mais de meio século meus olhos concentram-se sobre a hóstia e sobre o cálice onde o tempo e o espaço se contraem e o drama do Gólgota é representado ao vivo, desvendando a sua misteriosa contemporaneidade”. O outro foi no volume I de Mitologia Grega: “Enquanto o tempo profano, histórico, é linear – pode-se comemorar uma data mas não fazer acontecer de novo o que ocorreu lá – o tempo mítico volta sempre sobre si mesmo. O rito liberta o ser humano dando-lhe segurança de que é capaz de abolir o passado e de recomeçar sua vida, recriando o mundo. Nele a divindade se manifesta em qualquer objeto, seja uma árvore, um pedaço de pão ou um cálice com vinho: a hierofania faz com que o objeto se torne outra coisa, embora permaneça o mesmo”.

Em um mundo materialista e dessacralizado é difícil entender que “através do rito, o homem se incorpora ao mito, beneficiando-se de todas as forças e energias que jorraram no evento origem”. A morte de um homem justo numa cruz, no caso de Jesus Cristo, não foi só uma injustiça, foi o nosso Criador ter se deixado matar vilmente para cobrir nosso pecado original. Na missa, com fé, se revive todo este drama como se o tempo houvesse voltado e estivéssemos lá no Gólgota, talvez até de novo.



publicado por joseadal às 01:18
Quinta-feira, 06 de Dezembro de 2012

Na brincadeira costumam dizer que a relação entre os casais mudou tanto que os jovens agora exigem um teste drive antes do casamento. As meninas dizem que é difícil achar um homem que queira assumir um compromisso sério. No livro em que João Paulo II comenta sua visão do mundo moderno a luz da revelação divina, ele disse sobre o assunto:

“Porque o homem não pode ‘realizar-se plenamente a não ser pelo dom desinteressado de si mesmo’, o casamento exige a vocação do homem à integridade. Entendo aqui integridade a um tempo o sentido pessoal e também o ético. O sacramento do matrimônio funda-se em tal concepção e requer pessoas responsáveis. Diante de uma vocação assim compreendida os jovens deveriam ter consciência de sua fraqueza, é natural experimentar certo temor diante da amplidão de tão grande tarefa. Deveriam perguntar-se: estarei à altura desta decisão? A atitude dos jovens pode ser um traço de humildade e nada ter a ver com pusilanimidade”.

O grande homem  tem uma confiança muito grande no ser humano e prefere achar que o jeito de evitar um contrato nupcial quer dizer que o pessoal de agora está mais consciente da grande responsabilidade envolvida e não tanto pelo egoísmo que está campeando em toda parte. Fala, então, de algo que nunca ouvi numa prédica aos nubentes:

“O casamento – exatamente como o sacerdócio – requer ‘humilde magnanimidade’ e confiança mútua, o que pressupõe uma fonte mais profunda que o sentimento puramente chamado amor apaixonado. A 'humilde magnanimidade' é mais poderosa do que as fraquezas à espreita no coração do homem”.

Fica-se imaginando como será o comportamento nas próximas gerações, quando não estivermos mais aqui. Serão mais espiritualizados para aguentar as pressões e ser perseverantes nas relações de família? 



publicado por joseadal às 00:18
Sábado, 01 de Dezembro de 2012

Minha homeopata me aconselhou na última consulta: José, leia um livro que edifique.

No livro de João Paulo II cada página tem matéria para se refletir por todo dia. Assim, estou lendo-o bem devagar. Estou numa parte em que ele fala do sofrimento:

“Outrora, ainda adolescente, sentia-me intimidado pelo sofrimento humano. Julgava que tudo que podia dizer ao doente eram ‘cheques sem fundo’, palavras vazias. O serviço pastoral me fez sair dessa timidez. Devo acrescentar que os próprios doentes me ajudaram. Como quando ouvi de alguém que padecia muito: Padre, não sabe a que ponto sou feliz. Em lugar de queixar-se esse homem me disse: Sou feliz!”.

Ele mesmo sofreu muito quando foi baleado e depois, quando um vírus o deixou as portas da morte. Então João Paulo II revela uma coisa misteriosa:

“No Jardim das Oliveiras, diante da Paixão [um forte sofrimento] Jesus pede: 'Meu Pai, se possível afaste de mim este cálice. No entanto, não se faça o que eu quero, mas o que Tu queres'. Este é um ponto a que voltará sem cessar nossa pergunta: por que o mal e o sofrimento são permitidos e aceitos no plano eterno de Deus”.

Então ele dá uma explicação para o poder que transforma uma terrível dor em algo suportável ou que até mesmo é aceito como uma necessidade a passar, algo que dá forças.

 

“Quando Jesus venceu o sofrimento perdoando toda dimensão do mal que estava nos corações dos homens que o feriam Ele enxertou no fundo dos sofrimentos de todos nós o poder e a luz da esperança”.

Agora a pouco, Lili lia o Salmo (109:22-26) que diz: “Estou aflito e necessitado, e o meu coração está ferido dentro de mim. Vou-me como a sombra que declina; quando me contemplam, movem as cabeças. Ajuda-me, ó SENHOR meu Deus, salva-me segundo a tua misericórdia”.

Que nossa vida seja feliz, mas se vier o sofrimento peçamos a Deus força para suportá-lo. Ele é a Pessoa certa para nos ajudar, porque o nosso sofrimento é permitido por Ele.



publicado por joseadal às 21:51
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