Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2013

Em sua maneira direta e bruta, sem paciência com a estupidez, Arnaldo Jabour começa uma crônica assim: “Primeiro, a Idiotice se fez carne e habitou entre nós. Uma das tarefas mais simples de ser realizada é disseminar a Idiotice. Se vocês olharem ao redor verão exemplos disso em cada esquina, em cada discurso de político, em cada propaganda de cosmético”. Ele falava da boate que pegou fogo e matou         D U Z E N T O S  E  T R I N T A E  N O V E jovens. Ele chama de idiotice alguém se meter num lugar fechado onde ficam amontoados uns sobre os outros. A estupidez sempre foi companheira do ser humano.   

Mas há o que seguem outro caminho. O livro Iniciação ao Misticismo Cristão fala dos que procuram a scala pefectionis:

     “A evolução para alcançar a iluminação é denominada escada da perfeição e tem três degraus:

     1.       Vida purgativa em que a pessoa luta para se libertar da tirania dos sentidos, anulando o ego com toda sua carga de egoísmo. Inclui renúncia, confissão e autocontrole, além da busca da sabedoria.

     2.       Vida iluminativa implica na disposição de lançar uma luz nova sobre tudo que entendia e fazia. O conhecimento que possuía desaparece, torna-se ignorante, achando ser trivialidade todo saber humano e mergulhando no saber divino.

     3.       Vida contemplativa é o ápice da peregrinação interior. A alma está unida a Deus sem nada interpondo-se entre eles.


    São João da Cruz descreveu este estado de espírito num poema:

Para alcançardes a felicidade

Não desejes ter prazer em nada.

Para possuirdes tudo

Nada desejes.

Para alcançar a plenitude

Almeje a ser nada.

Para conhecer todas as coisas

Deseje nada saber”

É, são dois caminhos.



publicado por joseadal às 20:22
Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2013

Numa floresta da Suécia um médico descansava de três anos de intenso trabalho em Paris que sobrevivia a uma peste após outra. Na casa de um guarda florestal e longe do aglomerado humano ele vai passar a primeira noite, e sonha. Está no Livro de San Michele: “Dei-lhes as boas-noites e subi ao meu quarto por cima do estábulo das vacas. Diante da janela erguia-se, silenciosa e escura, a floresta. Coloquei a vela e meu relógio em cima da mesinha e estendi-me sobre a pele de carneiro, caindo de sono e de fadiga depois da minha longa caminhada. Escutei o ruminar das vacas. Ouvi o pio de uma coruja distante. Daí, ouvi mexer na mesinha, a luz da vela bruxuleava preste a extinguir-se. Pareceu-me ver um homenzinho do tamanho da palma de minha mão puxando com cautela a corrente de meu relógio, inclinando de lado a cabeça grisalha para escutar o tique-taque. De repente deu por mim, pulou da mesa e pôs-se a correr.

- Não tenhas medo. Não fujas que eu te mostro o que há nessa caixinha de ouro.

Deteve-se olhando-me com seus olhinhos brandos.

- O que tens aí, é algum bicho? Escuto o pulsar do seu coração.

- O que tu ouves é o latejar do coração do Tempo.

- O que é o Tempo?

- Ninguém te poderá dizer, só sei que ele não para nunca de sussurrar.

- E compreendes o que ele diz?

- Ai de mim! Diz-me a cada instante do dia e da noite que envelheço e ei de morrer.

 Saiu correndo batendo com os tamanquinhos no chão. Então parou e voltando-se rindo, disse: A morte, ora essa, é a coisa mais absurda que ouvi! Que cegos idiotas são os homens!”

O gnomo deve ter razão, como somos idiotas quando dizemos: não tenho tempo.    


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publicado por joseadal às 00:58
Domingo, 24 de Fevereiro de 2013

O caminho desdobrava-se em uma curva onde uma árvore bem antiga assistia ao ir e vir do ser humano há mais de um século, numa extensão plana onde as chuvas formaram um areal traiçoeiro que fazia rabear a bike, nas descidas semeadas de pedras quebradas de imemoriais granitos e em subidas demoradas e estafantes com uma abertura onde um céu esbranquiçado pelo nevoeiro aparecia, lá adiante. Aproximávamos de Pentagna, e foi aí que o colega Otacílio falou de sua filha de cinco anos pedindo um celular: “como minhas coleguinhas já têm”.

Estou lendo Virtualização dos Saberes, de Renato N Bittencourt, onde o jovem doutor em Filosofia fala da geração do século 21: “O virtual não se contrapõe ao real tal como nós o conhecemos, é uma espécie de extensão desse mundo concreto por meio de instâncias imateriais”. Então cita o filósofo Pierre Levy: “O virtual não substitui o real, ele multiplica as oportunidades para desenvolvê-lo. A multiplicação de máquinas informacionais afetará a circulação do conhecimento, do mesmo modo que o desenvolvimento dos meios de circulação dos homens o fez. Os recursos interativos antes do advento da internet seguiram o padrão um-um (o telefone), depois o um-muitos (o rádio, o cinema e a TV) e agora serão caracterizados pelo padrão todos-todos”. Este é o especialista em Cibercultura. 

É assustador para um jovem pai ver a filhinha de cinco anos querer sair do círculo bem escolhido de quem lhe transmite informações para um incontrolável turbilhão de ideias e pensamentos. O professor Bittencourt diz que os novos pais terão de conviver com isto, porém sem abrir mão do cuidado com a formação da tenra criatura que será continuação dele mesmo. “A disposição informativa todos-todos promove a mútua informação entre aqueles que se encontram conectados. A mensagem parte de um centro difuso para atingir uma periferia numerosa. Cada um poderá fazer parte desse processo de construção coletiva de conhecimentos a ser compartilhado publicamente. A expansão da internet abre a possibilidade de haver uma maior comunhão dos conhecimentos elaborados a um nível jamais imaginado pelas estruturas epistemológicas”.

Aí reside o problema do meu colega: a filha de cinco anos já pretender se comunicar (ouvir) o mundo todo. “A palavra epistemologia designa o estudo da origem, dos métodos e da validade do conhecimento que chega até nós. A sua problemática compreende a questão de se é possível ao ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, de quais são os limites do conhecimento e da origem do conhecimento. Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção a priori?” – definição da Wikipédia.

O meu amigo Canela e todos os pais do século 21 terão de conviver com isso: cada vez mais cedo o filho quererá bater asas e voar.

- Mas será que ela já está pronta, Zé?!   



publicado por joseadal às 12:34
Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2013

“Jó, embora duvidando que alguém possa ter razão num confronto com Deus, não desiste da ideia e interpela o Criador no terreno do Direito e da moral”.

Esta é uma interpretação da história do patriarca Jó, da Bíblia, feita pelo psicanalista Carl Jung. Que diz mais: “Reconhecendo que Deus não está preocupado com julgamento moral ou ético feito pelo homem, Jó não se deixa abater e enfrenta a unidade divina porque tem certeza de que encontrará no Pai superior um advogado, que o defenderá contra o próprio Deus, tão certa é para ele a existência do bem e do mal dentro de Javé”.

Toda conversa de Jó com o Ser Supremo é uma comunicação mística. Sobre isto diz o livro Iniciação ao Misticismo Cristão: “O misticismo é um fenômeno presente em todas as grandes religiões. Mergulhar nessa dimensão, na qual residem forças sobre-humanas, é uma experiência só para alguns que se acreditam predestinados. A vida de São Paulo ilustra essa via mística de iluminação gradual que ele testemunha com o rigor dos seus ensinamentos morais. Sua união com Cristo [iniciada com a visão no caminho de Damasco] criou uma intensa unidade de fé e de amor, mesmo que a integridade da natureza humana [de Paulo] e da natureza divina [de Jesus cristo] permanececem inviolada”.

(em Santa Rita de Jacutinga, onde o tempo parece que parou, essa velha ama de leite parece sair dos livros de Lima Barreto

Nessa vida moderna e mecanicista são cada vez menores as chances desta comunhão entre um homem e seu Deus. Ela é tão forte como deveria ser um casamento, uma união em que há uma penetração, no caso, do divino no humano.

Uma religião organizada, com uma hierarquia forte, não aceita com facilidade um místico, aquele que fala diretamente com o Pai: “A leitura serena dos escritos deixados por eles mostra que a interpretação do texto bíblico é, em sua visão, mais poética e metafísica. Aliás, a origem da perseguição movida a eles na época negra da intolerância era a acusação de que o místico seria um desvirtuador da Palavra Divina a qual davam uma interpretação própria, como se dela fossem os únicos autênticos portadores”.

Quando se lê Castelo Interior, de Santa Tereza D’Ávila, vê-se uma tão grande alegria que a união mística com Deus dá a uma criatura, que chega a nos amedrontar.



publicado por joseadal às 11:56
Sábado, 16 de Fevereiro de 2013

Quando a mente cansa de uma leitura que exige aprendizado, ligando uma informação nova com outras que conhecemos, então é bom ler um romance verdadeiro ou ficcional. Peguei um livro que li há muito tempo, O Livro de San Michel. Um médico sueco se estabelece na Itália e, já idoso, relata suas experiências na região de Capri, em sua residência no monte San Michel, onde subia por 777 degraus.

“Os homens de hoje perdem muito tempo a escutar o que dizem os outros; mais lhes valera atender devidamente às suas próprias ideias: podemos aprender a sabedoria dos outros, mas temos de buscar a prudência em nós mesmos. O manancial da sabedoria brota em nós na silenciosa profundidade das nossas ideias solitárias e dentro dos próprios sonhos. A água dessa fonte é clara e fria como a verdade e o sabor amargo como a dor”.

Amigo de homens e mulheres intelectuais, como os escritores Henry James e Guy de Maupassant, ao contar suas experiências de vida faz reflexões que nos abrem a mente. Verdade que ele mesmo se contradiz ao dizer que não é bom “escutar o que dizem os outros”, se ele mesmo lia constantemente o pensamento de outros. Mas deixa claro que temos de cotejar o que ouvimos ou lemos com a experiência que está dentro de nós mesmos. Lembrando sempre que o que “sabemos” não é só que vivemos nessa vida. É preciso ir ao ‘manancial da sabedoria que brota da profundidade das nossas ideias e que estão dentro dos nossos sonhos’. Do pequeno arquivo no consciente e da imensa biblioteca no nosso inconsciente.

Sobre a força que temos dentro de nós ele diz: “Fomos criado para levar uma cruz pesada. Para isso nos dotaram de vigorosos ombros para suportar um sem-número de aflições. Pode-se viver sem amigos e até sem livros e música, contanto que sejamos capazes de escutar nossos próprios pensamentos, e o canto do pássaro numa árvore ou o bramir do mar ao longe”.

Não se pode deixar a zoeira engolfante desse mundo nos deixar surdos ao que é mais vital para nós.



publicado por joseadal às 12:33
Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2013

As palavras de despedida do papa Bento XVI, conforme noticiado, “penso em particular nos atentados contra a unidade da Igreja e nas divisões no corpo eclesiástico”, nos pegou de surpresa e veio de encontro ao que estou lendo no opúsculo Iniciação ao Misticismo Cristão, de J.C.Ismael:

“O cristianismo nasceu efetivamente do testemunho dos apóstolos das aparições de Jesus após a sua morte. A notícia da ressurreição complementou a boa nova da encarnação, o mistério de Deus feito homem, enquanto o culto da eucaristia unificou essas revelações. Até dez anos antes da destruição da cidade pelos romanos, em 70 d.C, a igreja de Jerusalém reunia a liderança cristã, conquistava muitos discípulos e gozava de grande popularidade, sendo tolerada pelo governo dominador de Roma por não ter pretensões revolucionárias. Os apóstolos abandonaram a cidade um a um até o ano de 63 e a igreja de Roma, formada na maioria por gentios, por volta do ano 100, liberta-se da herança judia e exerce indiscutível liderança no mundo ocidental. A igreja de Antioquia e de Alexandria incorpora novos e enriquecedores elementos rituais oriundos da tradição síria e egípcia”.

Não imagine que todas essas mudanças aconteceram sem ‘divisões no corpo eclesiástico’. Não parava de acontecer dissensões no cristianismo. Enquanto vivos, cada apóstolo denunciou e fez que se expurgasse as heresias mantendo íntegra a Igreja de Cristo. Mas por toda história grupos de cristão que pensavam diferente da Igreja existiram e disseminaram sua maneira de interpretar a revelação de Jesus. Depois de 2.000 anos há tantas seitas e igrejas cristãs que parece impossível acontecer o que Ele tanto ensinou (João 17:20-21): “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”.

O que sucederá com o cristianismo neste século 21?



publicado por joseadal às 00:53
Terça-feira, 12 de Fevereiro de 2013

Há tanto o que dizer sobre o amor!

Antigamente saia todos os dias nos jornais um quadrinho nomeado: Amar é... Não há fim para se descrever esta força. Mas no livro Mil Platôs dois filósofos franceses dizem algo muito esquisito sobre o amor.

“O que quer dizer amar alguém? É sempre apreendê-lo numa massa, extraí-lo de um grupo, mesmo restrito, do qual ele participa, mesmo que por sua família ou por outra coisa; e depois buscar suas próprias matilhas, as multiplicidades que ele encerra e que são talvez de uma natureza completamente diversa. Ligá-las às minhas, fazê-las penetrar nas minhas e penetrar as suas. Núpcias celestes, multiplicidades de multiplicidades. Não existe amor que não seja um exercício de despersonalização sobre um corpo sem órgãos a ser formado; e é no ponto mais elevado desta despersonalização que alguém pode ser nomeado, recebe seu nome ou seu prenome, adquire a discernibilidade mais intensa na apreensão instantânea dos múltiplos que lhe pertencem e aos quais ele pertence”.

Não é incrível esta maneira de descrever o antigo pensamento oriental que foi incorporado a Bíblia (Gênesis 2:24) : ‘Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne’? Viver juntos é “buscar as próprias matilhas dela, as multiplicidades que ela encerra” ou ela nas multiplicidades dele. Não é uma tarefa fácil, demanda tempo e paciência. A força que move essa assimilação é essa: “Não existe amor que não seja um exercício de despersonalização sobre um corpo sem órgãos a ser formado”. Esse corpo informe que vai ser formado é “serão ambos uma carne”. Ou é a “apreensão dos múltiplos que me pertencem e aos quais ela pertence”, ou vice-versa.

(foto tirada no alto da serra de Itatiaia)

Esse trecho agora é mais complicado. Como o consciente e inconsciente dos dois edificam este novo ser que é eles juntos: “Não basta então atribuir ao consciente as multiplicidades, reservando para o inconsciente outro gênero de multiplicidades, porque o que pertence de todo modo ao inconsciente é o agenciamento dos dois, a maneira pela qual as primeiras condicionam as segundas e pela qual as segundas preparam as primeiras: a libido tudo engloba”. O consciente dos dois vai apreendendo os caprichos, as simpatias e antipatias e os hábitos, mas é o inconsciente com seus arquivos antiquíssimos que faz “o agenciamento dos dois”. Então, amar outra pessoa e viver com ela é “estar atento a tudo ao mesmo tempo, à maneira pela qual um indivíduo tal ou qual, tomado numa massa, tem ele mesmo um inconsciente de matilha que não se assemelha necessariamente à matilha da qual faz (fazia?) parte; à maneira pela qual um indivíduo vai viver em seu inconsciente as matilhas de um outro indivíduo. É como conhecer a multiplicidade de sardas sobre um rosto”.


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publicado por joseadal às 13:31
Sábado, 09 de Fevereiro de 2013

Travei conhecimento com Santo Afonso de Ligório e seu pensamento. Ele foi um moço muito inteligente que aos 16 anos formava-se em Direito civil e canônico, na cidade Nápoles.

Corria o princípio do século 18 e no Brasil uma guerra selvagem estremecia nossas selvas. Bandeirantes paulistas lutavam contra o governo português e suas taxas exorbitantes e a proibição de explorarem ouro em Minas Gerais. Ligório, desprendido de lutas materialistas exortava seus irmãos pelo mundo a buscarem a santificação para poder ver a Deus face a face. Ele enumera atitudes que podemos tomar enquanto vivemos no mundo, mas sem nos aviltar com ele.

“Meu irmão, acautela-te. Chora os teus pecados e põe em execução os meios apropriados á tua salvação: confessa-te frequentemente, lê algum livro espiritual todos os dias, como todos os dias em honra de Maria recitarás o Rosário, jejuarás todos os sábados, resiste ás tentações invocando repetidas vezes os doces nomes de Jesus e Maria, foge das ocasiões de pecar e se, além disto, Deus te dá vocação para abandonares o mundo, faze-o prontamente”.

São conselhos católicos, mas resolvi adotar de imediato três deles: ler um pedaço de um livro espiritual cada dia (o que faço sempre), jejuar por 12 horas aos sábados e fugir de ocasiões de pecar, por isso não sai no bloco das Piranhas como fazia todos os anos.

- Zé, você tem cada uma! (no meio das serras os ciclistas param em descanso)

Ligório lembra quase ameaçando: “Pensa que também para ti há inferno, se pecares. Já está acesa a teus pés aquela formidável fogueira, e agora mesmo, ai! quantas almas estão caindo nela! Reflete que, se tu também lá caíres, não poderás jamais sair. Se alguma vez mereceste o inferno, dá graças a Deus por não te haver precipitado nele e prontamente remedeia o mal que fizeste, enquanto te é possível. Tudo quanto se faça para evitar uma eternidade de penas é pouco, é nada. Nunca serão exageradas as nossas precauções para nos assegurarmos uma eternidade feliz”.



publicado por joseadal às 22:18
Quinta-feira, 07 de Fevereiro de 2013

Estou terminando uma aventura espetacular em companhia do médico Sinhue que viveu no reinado do faraó Akhnaton predecessor de Tutankhamon. O fim do reinado se aproximava, uma administração cheia de erros levou o Egito ao deblaque. O livro O Egípcio conta:

“Alastrou-se a carestia pela terra do Egito, e impossível era prognosticar os infortúnios próximos. Os carros de guerra dos hititas tinham atravessado o deserto do Sinai atacando terras do faraó. Tais notícias fizeram o sumo sacerdote e primeiro ministro Eie vir à pressa de Tebas e o general Horemheb de Mênfis a fim de discutir a situação com o faraó. Dada a minha condição de médico real estive presente a essas conferências, temendo que o faraó se excitasse demais e adoecesse”.

Depois de exporem os fatos e oferecem soluções o faraó disse: “Preciso orar e vigiar, antes de decidir. Reuni amanhã o povo e através deles falarei a todos os egípcios e revelarei meu propósito”.

Quando jovem Akhnaton teve uma revelação, era um governante muito religioso. Isso interferia em sua política. Lendo sobre esta mistura do temporal com o espiritual lembrei-me de um personagem de nossa história que se tornou anti-herói por ter tomado decisões que separaram a Igreja do governo, tanto no Brasil quanto em Portugal, Marques de Pombal.

A Wikipédia, diz: “Com a expulsão violenta dos jesuítas do império português, o Marquês determinou que a educação na colônia passasse a ser transmitida por leigos nas chamadas Aulas Régias. Até então, o ensino formal estivera a cargo da Igreja. O ministro regulamentou ainda o funcionamento das missões, afastando os padres de sua administração, e criou, em 1757, o Diretório, órgão composto por homens de confiança do governo português, cuja função era gerir os antigos aldeamentos”.

Por suas convicções o faraó decidiu não ouvir seus ministros e disse a assembleia: “Aton apareceu-me, e a sua verdade arde dentro de meu coração, de modo que não vacilarei. Derrubei o falso deus Amon-Rá, mas permiti que os antigos deuses fossem venerados. Mas hoje eu ordeno: todos os velhos deuses devem cair para que a luz de Aton prevaleça. Assim eu libertarei o Egito da servidão do mal”.

(em um corte na estrada Santa Rita de Jacutinga-Bom Jardim de Minas)

É perigoso misturar política e religião.



publicado por joseadal às 23:59
Quarta-feira, 06 de Fevereiro de 2013

Ler Mil Platôs não é fácil. Parece andar numa mata fechada tendo vislumbres rápidos da fera que ronda por ali: um pedaço do pelo amarelo e preto entre a folhagem ou um farfalhar de folhas pisadas. Por longos trechos se lê sem encontrar um sentido ou uma conexão com o que já se conhece. Então, quando cansados de palmilhar as páginas sente-se vontade de parar, em fim a fera se mostra claramente. Afinal, encontramos algo que nos acrescenta.

Aqui os filósofos, autores desse livro, explicam conceitos de problemas da mente. “No entanto, Freud, iria logo escrever algumas páginas extraordinárias no artigo de 1915 sobre O inconsciente, expondo a diferença entre neurose e psicose. Freud diz que um histérico ou um obsessivo, os neuróticos, são pessoas capazes de comparar uma meia a uma vagina, uma cicatriz à castração. Mas apreender eroticamente a pele e sua multiplicidade de poros e de pequenas cicatrizes a um monte de vaginas, e coisa que só um psicótico é capaz. Há nisto uma descoberta clínica muito importante, que faz toda diferença de estilo entre a neurose e a psicose. Por exemplo, quando Salvador Dali se esforça para reproduzir delírios em suas pinturas, ele pode falar longamente sobre o chifre de rinoceronte, mas não abandona nunca um discurso neuropata. No entanto, quando se põe a comparar eriçamento da pele num arrepio a um campo de minúsculos chifres de rinoceronte, sente-se bem que a atmosfera muda e que se entra na loucura”. (O rinoceronte e seu chifre é um tema que Dali usa repetidamente em suas pinturas)

Esse é um trecho que se compreende com facilidade, mas quando ele fala de multiplicidade de significâncias numa mesma palavra a coisa complica. “O procedimento de redução é muito interessante no artigo de 1915, de Freud: ele diz que o neurótico guia suas comparações ou identificações com base em representações de coisas”. Imagens são o que provocam erotização nessas pessoas quase normais. "Enquanto que o psicótico constrói a representação com palavras (por exemplo, a palavra buraco e os orifícios do corpo). Assim, mesmo não existindo unidade nessas coisas, pode existir unidade e identidade entre essas palavras. Pode-se observar que tais palavras são tomadas aqui num uso extensivo, que asseguram a unificação de um conjunto que elas subsumem. O que é compreendido, tanto do lado das palavras quanto das coisas, é a relação do nome próprio produzindo intensidade numa multiplicidade que o neurótico apreende instantaneamente. Para Freud, quando a coisa explode e perde sua identidade, ainda a palavra aí está para reconduzi-la à identidade. Freud contava com a palavra para restabelecer uma unidade que já não estava nas coisas que o neurótico vê”.

Onde esses filósofos querem nos levar? Afinal não escreveram um livro para discutir Freud. Não, eles estão tentando discutir e entender o homem moderno e nosso comportamento que está ficando psicótico. Há modos de se fugir da psicose e até da neurose, como o contato com a natureza.

(na foto um prado no alto da serra da Mantiqueira)



publicado por joseadal às 00:18
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