Sábado, 28 de Dezembro de 2013

Nos primeiros anos do século 19, exatamente há 200 anos, em 1814, a fotografia se firmava como uma invenção cheia de potencialidades. Os retrógrados diziam absurdos sobre a capacidade humana de registrar um momento, congela-lo no tempo, como diziam. O pensador cosmopolita, Walter Benjamin assim conta para nós, em Técnica e Arte (p.98): “Fixar efêmeras imagens não é somente uma impossibilidade, mas um projeto sacrílego. O homem foi feito a semelhança de Deus e a imagem dEle não pode ser fixada por nenhum mecanismo humano”. Santa barbaridade!

Mas havia os que pensavam diversamente e, admirando a foto de uma mulher, faziam versos:

“Eu me pergunto como conseguiam o adorno desses cabelos

E esse lânguido olhar, os seres de antigamente.

Como essa boca tantas vezes beijada destila um desejo

Que se evola loucamente como fumaça sem fogo”.

(foto de David Octavius Hill)

Benjamin reflete: “Apesar de toda perícia do fotógrafo e tudo o que foi planejado, o observador sente a necessidade irresistível de procurar na imagem a pequena centelha do acaso, do aqui e do agora. A natureza que fala a câmera não é a mesma que a do olhar, é outra, especialmente porque retrata um espaço percorrido inconscientemente por ele”.

Eu que fotografo muito, sempre me perguntava: porque as pessoas nas fotos estão sempre encostadas a algo ou sentadas? “Os acessórios nesses retratos, pedestais, balaustradas, mesas e cadeiras e poltronas evocam o tempo em que, devido à longa duração da pose, os modelos precisavam ter pontos de apoio para ficarem imóveis, ou a foto saia tremida”.

Não se poderia mais viver sem fotos.

 



publicado por joseadal às 22:28
Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2013

Uma ordem cria em quem a ouve um imediato antagonismo. Como na admoestação de Paulo (1Coríntios 5:1, 2): “Há entre vós fornicação, e fornicação tal que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem possua a mulher de seu pai. E nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação”.

Diferentemente, um mito é um parábola que faz pensar com boa vontade num assunto, mesmo que seja escabroso. Na história de Psique, na Mitologia Grega, a jovem desce a Mansão dos Mortos e é aconselhada: não te é lícito sentir piedade. E lá ela se depara com uma situação que desperta compaixão. Um velho chamado Ocno puxa um burro carregado de pedaços de pau que vão caindo durante sua marcha vagarosa. Psique vê o velho se abaixar, pegar o pau e colocar no cesto, mas quando volta a caminhar lá se vai outra acha ao chão. A moça sente vontade de se abaixar e pegar, porém lembra-se de que não deve sentir piedade. Ocno está no inferno por ter sido preguiçoso em mudar seu modo de vida e por sua sexualidade incontrolável. Pecava, arrependia-se e voltava a cometer o erro. Agora, por toda eternidade tem de apanhar lenha e perde-la incessantemente. (nesta imagem o pecador incorrigível, Ecno, paga outra pena: tece uma corda que o burro come sem parar)

Psique não deve ajudar, por que? O livro cita o psiquiatra Erich Neumann, que explica (p.245): “A psique feminina defronta-se com a difícil tarefa de abandonar o anseio de se fixar no que está próximo para alcançar um objetivo distante e abstrato. É estrutura coletiva da psique da mulher, é um desejo muito forte do gênero feminino: manter o vínculo entre mãe e filhos e tentar de todo modo ajudar seu homem em sua fragilidade. Ajudar sempre significou uma 'participação mística’, pressupõe cumplicidade e cria uma identidade de propósitos muito perigosa. O ego feminino é ameaçado na sua estabilidade pelo perigo da distração provocada por um relacionamento que rouba suas forças e a desvia de seu destino”.

Está vendo, contar esta lenda talvez inspire mais uma jovem do que proíbi-la de continuar se encontrando com aquele mau caráter.     



publicado por joseadal às 02:43
Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2013

Há exatamente cem anos, como era a cabeça das pessoas? Sim, porque vamos entrar em 2014 com tantas expectativas boas, mas e nossos avós, qual eram suas perspectivas? Por isso é bom ler um livro da época. É como usufruir da mesma alegria do arqueólogo que encontra enterrada uma peça que revela como viviam as pessoas daquele lugar há muito tempo.

Em Arte e Política, o pensador Walter Benjamin diz sobre aquele tempo: “Na cabeça dos homens, o ‘destino’ e o ‘heroísmo’ se relacionam a Gog e Magog, e suas vítimas não são só os’ filhos dos homens’, mas o ‘filhos das ideias’. Tudo o que foi pensado de sóbrio e ingênuo sobre o melhoramento da convivência humana entrou nas goelas desses canibais, que reagem a esse festim com os arrotos dos seus morteiros de 42 cm”.

Naquele promissor século XX ainda pairavam no ar pensamentos pacíficos, ideias conciliadoras de alguns filósofos e líderes religiosos. Mas começou a crescer uma onda de pensamentos que privilegiava a morte. “Precisamos dizê-lo com toda a amargura: com a mobilização total a paisagem, o sentimento alemão pela natureza, experimenta uma transformação inesperada. Os gênios da paz, que habitavam tão sensorialmente ali, foram evacuados para longe, até onde nosso olhar pode ir, para os cemitérios que se tornaram terreno fértil para o idealismo. Cada rolo de arame farpado que é emaranhado para conter o avanço do inimigo converte-se numa antinomia (consegue reunir duas proposições contraditórias), cada trincheira aberta torna-se uma declaração de ódio, e cada capacete realça os traços heroicos no rosto do soldado. É um equívoco, porque o que as pessoas julgam ser heroísmo são na verdade traços da morte”.

As mentes podem ser convencidas, a mídia e sua propaganda pode mudar sentimentos bons em ódios incontrolados.

“Uma propaganda eivada de interesses espúrios e impregnada de perversidade reduziu a técnica armamentista a um rosto apocalíptico, e a natureza contemplativa reduziu-se ao silêncio, embora  pudesse ter sido a força capaz de dar a voz conclamadora da guerra uma abstração metafísica. O novo nacionalismo é unicamente uma tentativa de dissolver na técnica, de modo místico e imediatista, o segredo da natureza e construir a guerra mundial”.

Parece-nos que o futuro próximo será pacífico, mas tem uma mancha que tende a se espalhar: essa desenfreada busca da felicidade – de novo aqui uma antinomia, pois a palavra ganhou o significado de viver sem esforço, só cercado de coisas prazerosas e nenhuma dificuldade. Parece que aí é que mora o perigo.       



publicado por joseadal às 12:56
Sexta-feira, 20 de Dezembro de 2013

“Estamos subindo uma montanha.

Estamos num processo de cura.

Estamos numa caminhada rumo a Jesus”.

Assim começa o capítulo Pecados e Feridas, no livro O Leão que Ruge ao Longo do Caminho (p.83).  Então, sai enumerando três tipos de pecadores:

“O criminoso: não consegue emendar-se. Ele sabe que é viciado em drogas ou bebida e vê o mal que faz a sua volta, mas apenas diz: ‘Eu não consigo mudar é tarde demais’. É um prisioneiro. Ou o problema é sexual, ele vive uma vida homossexual ou coabita com uma mulher que é comprometida com outro e se dá conta que prejudica a uns e outros, mas diz: ‘Este é o tipo de vida que eu tenho que viver’. Seu modo de vida torna-se uma segunda natureza.

O que não tem sentimento de culpa: é o único que não vê seu pecado. ‘Não é culpa minha’, assim não assume sua responsabilidade e não pode ser curado. Sempre culpa um terceiro pelo erro que pratica.

O que se reconhece pecador: um homem muito correto uma vez disse: ‘quem pode se tornar santo? Aquele que tem a consciência de que é um pecador’”.

No livro A Barca dos Homens, de Autran Dourado,

um dos personagens é Tonho, um pescador, um bêbado. Numa noite em que o mar batia forte ele vive seu momento de se reconhecer pecador (p.211): “Quando não se tem mais necessidade de provar que se é um homem, aí se está perdido. Pode-se perder uma vez, duas, muitas, mas não se dar por vencido. Olhe para mim, fui reduzido a quase nada, a um molambo que perambula pela ilha, por uns zombado, por outros desprezado. Quando dentro de si um homem se quebra, é difícil juntar os pedaços. Não é mais um homem. Mas ainda não me dei por vencido! Ainda sou um homem!, gritou para o mar bravo. Foi então que começou a sentir uma fraqueza no corpo todo, um cansaço doloroso, um vazio na barriga. Sabia como encher aquele vazio, como acalmar a dor e aliviar o cansaço. Olhou a garrafa ainda fechada, alisou-a”.

No livro lá de cima, o frade Elias Vella,

lembra o caso de Jesus e da mulher adúltera (João 8:1-11): “Mulher, eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar”.

 

Ordem mais difícil para o pecador cumprir.



publicado por joseadal às 20:08
Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2013

Quando vemos as manifestações – e estão acontecendo pelo mundo afora – de pacíficas tornarem-se violentas, ficamos perplexos, mas Walter Benjamin, em seu livro Arte e Política (p.32), lembra:

“Desde Mikhail Bakunin, não havia um conceito radical de liberdade.

(Bakunin oi um teórico russo do précomunismo - 1814-1876)


Depois dele os surrealistas foram os primeiros a liquidar com o ideal fossilizado de liberdade dos moralistas e humanistas, porque sabem que ‘a liberdade, que só pode ser adquirida neste mundo com mil sacrifícios, quer ser desfrutada, enquanto dure, em toda a sua plenitude e sem qualquer entrave pragmático. A causa da libertação da humanidade em sua forma mais simples, a libertação total, é a única pela qual vale a pena lutar até a morte”.

Esse é o encadeamento do pensamento do revoltado com a maneira de ser da sociedade: se a liberdade só pode ser adquirida com mil sacrifícios, então depois de conquistada quer ser desfrutada, enquanto dure, em toda a sua plenitude e sem qualquer entrave. Assim pensam os gays que tendo sofrido tanto para ter um espaço num mundo hétero vão querer fazer tudo o que quiserem. É o caso do jovem que lutando contra um estado de coisas que entende falso e injusto, acha que pode ir às últimas consequências.

Em que situação fica a maioria que não quer mudar nada?  



publicado por joseadal às 11:11
Quarta-feira, 04 de Dezembro de 2013

A História tem estratos abaixo do que vemos, e eles são bastidores misteriosos.

No livro Magia e Técnica, Arte e Política, do filósofo Walter Benjamin, onde ele fala do século XIX, li (p.30):

“A característica de todas as posições burguesas é uma irremediável vinculação entre a moral idealista e a prática política”.


Ele quer dizer que no meado daquele século toda a sociedade vivia um ideal moralizante, como atualmente. Neste ambiente surgiram várias religiões, como as Testemunhas de Jeová e os Adventistas do Sétimo Dia. Mas sob aquela superfície calma agitavam-se diversas tensões que alguns intelectuais perceberam.

“O culto do mal feito por pensadores da época foi um aparelho de desinfecção contra todo diletantismo moralizante, por mais romântico que ele fosse. O surpreendente é que, sem qualquer coordenação entre si, ajustaram seus relógios para precisamente há mesma hora quarenta anos depois surgirem os escritos de Dostoievski, Rimbaud e outros, denunciando ações humanas sem nenhuma ética”.   

O que ele explica é que surgiu no meio de um estado de calma aparente uma literatura que explorava a sociedade marginalizada, o crime, e os cultos ocultistas. Era o surrealismo expondo uma realidade que se pretendia desconhecer. Então, no princípio do século XX, mais ou menos neste mesmo estágio que vivemos hoje, pelo ano 1913, explodem diversas violências, como a primeira Guerra Mundial e a revolução Comunista. Milhões morrem. Benjamin, continua:

“Autores como Dostoievski compreenderam como é falsa a opinião pequeno burguesa de que o bem inspirado por Deus pode levar o homem a praticar todas as virtudes. Escreveram que o Mal é inteiramente espontâneo no ser humano. Reconheceram a infâmia como algo préformado em nós mesmos. Como algo que nos é inculcado e imposto como tarefa. Para eles Deus criou não apenas o céu e a terra, o animal e o homem, mas também a vingança, a mesquinharia e a crueldade”.


Não é? Numa sociedade cheia de religiões  na qual não cessam de acontecer crimes ediondos e atentados contra crianças isto deve nos mostrar que tem mesmo algo de Mal entranhado em nós.

 



publicado por joseadal às 16:49
Segunda-feira, 02 de Dezembro de 2013

Você ainda não tinha nascido e as nações viviam uma intensa necessidade de ser governadas por caudilhos fanfarrões. Na Itália, o líder seguido fanaticamente, era Mussolini. Naquele país tradicionalmente católico as procissões passaram a ser atacadas, jovens indo para a igreja eram agredidos e colégios católicos eram fechados. O papa Pio XI escreveu um veemente protesto em forma de encíclica: NON ABBIAMO BISOGNO.

(Repare que o papa se parecia muito com Getúlio, que a época preparava-se para ser nosso caudilho) 

Um documento destes é um conselho e exortação que não envelhecem, estão sempre atuais. O aviso dado nesta carta é o que vou te contar rapidamente. Era 29 de junho de 1931 (p.13), está escrito em espanhol, mas se consegue entender bem:

“Decíamos que los últimos acontecimientos han acabado de demostrar, todo cuanto ha sido perdido y destruido en pocos años en materia de religiosidad y de educación. No decimos solamente de educación cristiana, sino sencillamente moral y cívica”.

Como é uma declaração inspirada ela não fala só do fascismo, mas da ação de controladores da mídia que fazem a cabeça dos jovens.

“Efectivamente: hemos visto una acción que se rebela contra las disposiciones de civilidade, y que impone o alienta la rebeldía; hemos visto una acción que se convierte en persecución y que pretende destruir lo que tiene de bon en el corazón joven; una atitud que permite y que deja estallar insultos de palabras y acciones contra la persona del Padre de todos los fieles hasta lanzar contra él los gritos de "abajo" y "muera", verdadero aprendizaje de parricidio. Semejante ensinamiento no puede conciliarse de ninguna manera con la doctrina y con las prácticas cristianas”.

O que acontecia na Itália fascista não era só um atentado contra a democracia e o respeito a adoração dos cidadãos, era uma lavagem cerebral semelhante a uma fanática pregação religiosa.

“La oposición es tanto más grave en sí misma y más funesta en sus efectos, cuanto que no se traduce solamente en hechos exteriormente perpetrados y consumados, sino también abarca los principios y las máximas esenciales de un programa ético”.

A mente dos jovens era trabalhada de tal forma que perdiam todo senso de respeito aos pais e a sociedade. O Estado pretendia cuidar da educação e dos espíritos jovens desde os primeiros anos escolares.

“Una concepción que hace pertenecer al Estado las generaciones juveniles enteramente y sin excepción, desde la edad primera hasta la edad adulta, es inconciliable con el derecho natural de la familia; para un cristano es inconciliable pretender que la família e la Iglesia, deban limitarse a las prácticas exteriores de la religión y todo lo restante de la educación pertenezca al Estado”.

No século XXI estamos assistindo as famílias e as igrejas sofrerem outra doutrinação persistente. A mídia invade as casas pregando sistematicamente que ser um pederasta, um homossexual, é bom e é o caminho do futuro. Assistir um “Félix” da novela, tão engraçado e convincente, deve ajuntar a fileira dos gays muitos jovens que estão em dúvida sobre suas responsabilidades sexuais.

O papa citou uma observação de Jesus (Mateus 18:2-7 ):  “E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles e disse: qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim me recebe; mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra, e se submergisse na profundeza do mar.  Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem”!

O núcleo gay da Globo devia pular todo na baia da Guanabara com câmeras pesadas amarradas nos pescoços.



publicado por joseadal às 11:39
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