Ontem, 25/05/2014, levando a pedalar pela primeira vez, a doutora professora de Odontologia, Trindade Igrejas, conversamos muito. Em determinado momento, em um trecho onde se ouvia o marulhar de uma cachoeirinha, comentei como o som era agradável. Ela acrescentou, sabiamente, que aquele som acordava antigas lembranças da infância. Então, começamos a trocar ideia sobre as informações guardadas em nossos neurônios, algumas parecendo perdidas por não as usarmos. Mas então – como dizia o palhaço Arrelia: não mais que derependente – um som, uma imagem, um cheiro, uma impressão na cútis ou na boca ressuscita aquela lembrança adormecida. Lindo, não é não? E tudo isso se fala pedalando. Não sei se num bar, com o vozerio em volta e um cara no violão querendo se impor a nossa atenção, conseguiríamos ir tão longe nessas boas divagações.
Estou falando tudo isso porque num livro muito difícil, A Religião de Jesus, o Judeu, no capítulo, O Emprego da Bíblia em seu Ensinamento, li: “Entre as declarações doutrinais atribuídas a Jesus, em várias, a prova conclusiva é tirada da história bíblica”. Se queria que seus ouvintes, na maioria pessoas sem instrução, entendessem o que ensinava, Jesus, lhes lembrava de uma passagem do Velho Testamento que eles conheciam bem, que fazia parte da cultura delas, e estava gravada nas suas sinapses. Como essa em Marcos 2:23-27: “E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas. Os fariseus lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito? Mas ele disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam? E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”. (para ilustrar uso esta pintura cheia de cor do artista Ney Tecídio - suas obras estão expostas na página dele, procure no Google)
As proibições e permissões do que se podia ou não fazer no dia de guarda, o sábado, eram tão complicadas que discutir-se o que os discípulos fizeram, colher espigas e comê-las cruas, se era lícito ou não, levaria tempo. Então Jesus mostrou a relativização dessa questão. Ele propôs: quem está com fome precisa seguir o mandamento ou não? Então, Ele os lembrou de uma história fartamente conhecida. Uma vez, fugindo da perseguição do rei assassino, Davi e seus homens estavam fracos de fome. Chegaram onde ficava o santuário – naquele tempo apenas uma tenda – entraram e pegaram pães que estavam no altar, haviam sido oferecidos e eram sagrados, e só sacerdotes podiam comer. E nem Deus nem os sacerdotes os condenaram. Desde aquele tempo já se desconfiava que "tudo é relativo". Pronto, uma passagem da velha Bíblia calou a boca dos que queriam discutir por discutir.