Às vezes, já deve ter-lhe acontecido também. Uma frase que ouço ou um pedaço de música, uma nuvem com raios de sol debruando seu contorno ou um jeito de olhar de alguém, acorda a memória de algo indefinível e uma lembrança foge nos deixando meio perdidos. Possivelmente não foi algo visto ou ouvido nesta vida.
No livro O Grande Gatsby, o escritor F Scott Fitzgerald, descreve um instante deste: "Em meio a tudo o que ele disse, recordei-me de algo, um fragmento de palavras perdido que ouvira, havia muito, algures. Uma frase procurou formar-se em minha boca e meus lábios se entreabiram como os de um mudo. Mas não produziram som algum e aquilo de que quase me lembrei permaneceu irrecuperável".
É preciso ser sensível com o eu-sou que temos dentro de nós e suas recordações muito antigas. Quando uma imagem, uma palavra, uma música, qualquer coisa em nossa vida atual tiver o dom de entreabrir nosso inconsciente e uma lembrança furtiva quiser chegar meio sem jeito, temendo intrometer-se em nossa existência, pare o que estiver fazendo, preste atenção a ela, convide-a a se chegar, não tenha medo nem ciúme de outro que viveu em eu-sou, e curta, sinta, o que se passou. Afinal, somos o que somos, uma colcha de retalhos.