Não fique abespinhado com o que vou contar, mas sempre quis ler Pierre Verger, um etnólogo e fotógrafo francês que foi estudar a evolução das sociedades tribais na África, se deixou envolver pelos cultos primitivos e seus rituais e veio ao Brasil registrar o desdobramento dos rituais afros aqui.
Peguei o livro dele, Orixás, e selecionei dois trechos (p.9 e 10), ainda estou no princípio da obra.
“A religião dos orixás está ligada à noção de família originária de um mesmo antepassado. Eram famílias numerosas que englobavam os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos e controle sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento e as águas doces ou salgadas. Ou, que exerciam certas atividades como a caça, o trabalho com metais, o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização. Após sua morte ganharam poder e a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes ou progênie feita”.
Esta descrição faz dos orixás homens e mulheres que foram elevados a posições de destaque e dados poderes, tal qual aos santos cristãos.
“Voltando assim, momentaneamente, a terra, entre seus descentes, durante as cerimônias de evocação, os orixás dançam diante deles e com eles, recebem seus cumprimentos, ouvem suas queixas, aconselham, concedem graças, resolvem as suas desavenças e dão remédios para as suas dores e consolo para os seus infortúnios. O mundo celeste não está distante, nem superior, e o crente pode conversar diretamente com os deuses e aproveitar da sua benevolência”.
E Verger conclui este capítulo: “Uma das características da religião dos orixás é seu espírito de tolerância e a ausência de todo proselitismo. Isso é compreensível e justificado pelo caráter restrito de cada um desses cultos aos membros e adotados (feitos) de certas famílias”.
São mistérios.