Quinta-feira, 29 de Agosto de 2013

Acontece, lê-se um livro apreendendo a história, vivenciando emoções, aprendendo novos conhecimentos, mas não percebendo o sentido mais oculto do enredo. Pode nem ser a intenção mais profunda do autor, mas é a mensagem subliminar contida na obra. Quando acabei de ler Vila dos Confins, de Mário Palmério, despedi-me do deputado Paulo Santos, do barqueiro Gerôncio, do tio Arlindo, do Jorge Turco do armazém, da fácil Maria da Penha e de tantos outros personagens; mas só vim me dar conta da mensagem oculta do livro no encontro com Jovens Católicos, ontem à noite. Vamos pegar dois trechos do livro (p.298): “Que diferença a vila depois de acabado o movimento da eleição. Voltara à vidinha sossegada de povoado sertanejo: uma ou outra senhora à janela, dois animais arreados a cochilar em frente ao armazém. Barulho mesmo mais nenhum. Havia sim o cacarejar de galinhas pondo ovos e a passarinhada disputando lugar no arvoredo. Paulo, de pé no barranco, via o rio correr cada vez mais cheio, cantava grosso, a correnteza cevada pela enxurrada forte da noite.(p.304) Gerôncio embarcava o resto do gado, os animais de sela da peonada e os sacos de viagem. Estava na hora de desatracar. Subiram os passageiros e por último chega Ritinha correndo, de vestido novo. A balsa larga caranguejando, andando de lado, a carretilha cantando. Paulo pensou: perigosa, aquela travessia. De repente um foguete estalou, longe, lá pelas bandas do cemitério, na entrada da Vila. Era o povo que voltava comemorando o resultado da eleição. Então, mais outro tiro e outro, mais perto agora. E mais três estourões valentes, um barulhão no céu. A passarada calou. Paulo viu: Virgem, mãe de Deus! Um garrotão rebentava os paus da cerca da balsa e se precipitava no rio, arrastando no mergulho o vestido cor de sangue de Ritinha. E o berro desvairado de Gerôncio: Boooi, diabo!”.

(no Colibri, lugarzinho perdido, uma quietude imensa, o amigo João Bosco enche a alma de paz apreciando o rio Preto que passa) 

Ontem, estudávamos os ensinos dos homens e mulheres santificados e o exemplo do Senhor Jesus sobre o silêncio. De como na quietude Deus está. E de como o mundo dos homens nos cerca de barulho, enchendo nossos ouvidos, mente e coração para não ouvirmos nossa alma.       



publicado por joseadal às 13:12
Terça-feira, 13 de Agosto de 2013

As almas mais sensíveis se confrangem diante da luta do nordestino numa seca prolongada. Como eles aguentam essa vida?

(foto de Cauê Rodrigues mostrando a pasmaceira do sertão)

Mas incrível é como uma miséria dessa ganha uma visão poética na descrição de um bom romancista. É o caso de Mário Palmério, em Vila dos Confins (p.56): “A primeira impressão que o arruado do Carrapato desperta é abandono e pobreza. Difícil topar, naquele fim de mundo, coisa mais triste e sem vida. O sol cai de ponta, brutal. Entorpece e queima tudo. A areia é polvilho de espelho socado no pilão. O ar se pode ver mover-se – lesma amarelada, quente, pegajosa dançando sobre ruas e telhados. O mormaço entra pelas frinchas das janelas e pelos vãos do telhado. Até dos tijolos que rejuntam o chão do quarto sobem nuvens de quentura. Um forno”.

O Brasil é assim. Sendo tão grande abriga grandes metrópoles com shoppings fresquinhos a poder do ar condicionado, e os tabuleiros estagnados e quentes do interior. Em ambos vivem almas sequiosas de atenção e alegrias.

- Mas, porque ainda teimam em viver em locais perdidos, assim?

Este outro trecho talvez explique: “João Fanhoso cantou outra vez o mesmo canto de taquaraçu rachado, o som alto ia longe. Um canto fino respondeu, petulante, do galho do tamarindo. Era o Garnisé. Longe, outro galo respondeu. Depois, outro e mais outro. A  serenata dos galos acordou a fazenda. Debruçado na janela do quarto ele olhou o céu. Pelos lados da lagoa, ainda demoram a beleza do azul escuro debruado de nuvens claras. Pelas bandas do rio Preto, aparecem os primeiros respingos cor de ouro e tingidos de vermelho sangue. Na direção do chapadão amontoam chumações de lã cinzenta das nuvens de chuva. Ele fala baixinho: Chuva, graças a Deus. Um vento fresco chega cheirando a frutas maduras, vinha dos espigões da serra, lá onde a chuva já malhara com vontade.

(este é um caminho do sertão, mas dificilmente você terá passado por aqui, como a gente faz de bicicleta) 

Ele fala quase rezando: Ô sertão bonito, meu Deus!”  



publicado por joseadal às 22:38
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