Reduzir uma idéia ao mínimo de palavras é uma arte, ou é resultado de uma mente desvairada. Tome esta frase atribuída a Nelson Rodrigues: "O desejo do puro é sempre hediondo". O que é que ele quiz dizer? O cronista Francisco Bosco cita-o para ratificar sua opinião: "A civilização é um sistema de repressão de pulsões, mas o limite entre liberdade e proibição é delicado e o excesso de controle [demaziada pureza] tende a levar a civilização de volta a barbárie".
Questão que se complica com falta de amor. Este sentimento nos faz muito ligado a alguém, nos preocupa seu bem estar, e tanto não lhe permitimos fazer tudo (controle moderado) quanto não temos coragem de proibir demasiado (sem liberdade).
O mais maravilhoso é que sempre testando seus limites, ultrapassando os limites das leis vigente ou praticando o que a religião chama de pecado, o ser humano foi conquistando mais espaço e o indivíduo melhor domínio sobre os desejos. Poucas vezes a liberdade levou a ações hediondas. O mesmo não se pode dizer da tirania, do controle irrestrito de um sobre o direito dos outros.
Hoje peguei um prospecto no balcão de uma contabilidade, cuja contadora é pastora evangélica, Como Conseguir o Perdão. Citando Paulo apresenta este paradoxo: "Se dizemos que não temos pecado estamos nos enganando. Meus filhinhos escrevo isso para que vocês não pequem. Porém se alguém pecar temos Jesus que nos defende diante do Pai". O controle [exigência de pureza] cria hipócritas porque veja: não peque... se pecar Jesus defende... e se dizemos que não temos pecado estamos nos enganando. É uma roda viva. Então o cristão não pode dizer: eu não tenho pecado. Na realidade a noção de pecado é um excesso de controle para quem recebeu o direito de livre arbítrio.
É melhor fazer como o homem simples e de bom coração: eu faço o bem e não olho a quem. E basta. Tudo o mais é controle e não faz bem.