Quinta-feira, 22 de Setembro de 2011

Será que você aguentaria ler a República, de Platão, um livro grosso, sem aventuras, damas enamoradas ou descrições eróticas? Dia desses, numa pequena rua de Nova Iguaçu onde fazem ponto caminhões de frete, vi um homem lendo-o, era um exemplar de páginas amareladas. Já bem avançado no livro o homem jovem de aparência simples parecia estar gostando do jeito de ensinar do mestre grego Sócrates, de quem Platão era discípulo. Faça um esforço e leia só um pedacinho da "alegoria da caverna" uma parábola importante deste livro e veja se percebe a lição do mestre a um aprediz. 

"Pessoas vivem numa morada cavernosa. Esta dispõe, acima, na direção da luz do dia, de uma entrada. Nesta morada, as pessoas estão acorrentadas desde a infância. Por isso, também, permanecem no mesmo lugar, de modo que só lhes resta olhar para o que se lhes opõe frente à face, estão incapacitadas de girar a cabeça. Sem dúvida, um brilho de luz lhes é concedido, a saber, o de uma fogueira que arde detrás, às costas deles. Na superfície há um caminho; onde pessoas passam carregando uma variedade de coisas, diversos artefatos humanos.

- Percebo. Você apresenta aí um quadro incomum e prisioneiros incomuns.

- Mas eles se assemelham bem a nós, homens. Pessoas assim, que nunca tiveram pela frente, seja por si mesmas, seja através de outros, a visão de algo além das sombras que a luz do fogo projeta sobre a parede da caverna que elas têm defronte.

- De que outro modo poderia ser, se estão obrigadas a manter a cabeça imóvel durante a vida inteira?

- Então, o que vêem elas das coisas que são carregadas às suas costas? Não vêem justamente isso, sombras?

- Realmente.

- Se elas, então, estivessem em condições de falar sobre o que viram, e de discutir umas com as outras, você não acha que elas tomariam o que ali vêem pelo real?

- Por Zeus, a isso estariam obrigadas.

- Considera agora a hipótese de os prisioneiros serem liberados das correntes e obrigados a, subitamente, olhar para cima, na direção da luz, ele só suportaria isso à custa de dores, e tampouco estaria em condições, por causa do brilho, de olhar para cada coisa da qual antes ele via a sombra. O que pensas que diria, se alguém lhe fizesse saber que ele antes via nulidades, mas agora, enxerga corretamente. Você não acha que ele aí não saberia o que fazer e, além disso, consideraria o anteriormente visto mais desvelado do que o que agora lhe é mostrado?

- Inteiramente, com certeza, disse ele".

Entendeu, não é? Pobres dos que desde a infância são enganados e acreditam em sombras, mentiras! E feliz você que vê tudo claramente, não é? Acorda! Todos nós estamos numa caverna escura e sempre se descobrirá coisas novas, pois o que agora parece claro é só uma sombra e ainda está para chegar o real.



publicado por joseadal às 23:50

Você quer conhecer? Então precisa estudar, quer dizer, lêr com concentração e refletir, associar o que  já sabes com o novo que estas aprendendo. O filósofo Martin Heidegger escreveu o ensaio A Doutrina de Platão sobre a Verdade onde diz:

"Para que possamos experimentar e, depois, conhecer o não-dito de um pensador, seja de que tipo for, temos de refletir sobre o seu dito. Satisfazer essa exigência devidamente implicaria discutir todos os diálogos de Platão em sua interconexão. Visto que isso é impossível, um outro caminho deve conduzir ao não-dito no pensamento de Platão".

Então perguntas: - O que é o não-dito?

É a entrelinha, é os novesfora, é o que se quiz dizer, ou como diz o matuto "enquanto cê ia com o milho eu voltava com o fubá". Quando um mestre nos ensina uma coisa, isto é, nos pega de onde estamos e nos leva mais a frente, ele mesmo já não está mais ali, já se encontra bem adiante. O mestre sempre nos ensina tudo, menos o pulo do gato, aquilo que ele descobre para si enquanto está a nos ensinar. Então, quando você estuda a opinião de um professor procure também o não-dito, o que ele sabe e não te disse.

"O que nele permanece não-dito é uma mudança na determinação da essência da verdade. Essa mudança que se consuma para ele, no que ela consiste, fica estabelecido através dessa transformação da essência da verdade".

Quando Jesus ensinava às multidões o pessoal voltava para casa satisfeito: este sim, ele não fala como os fariseus, ele ensina com autoridade! Mas uns poucos não iam embora, queriam saber o não-dito, o que o mestre sabia e não falou: diga-nos, o que significa a parábola do semeador? o que o Senhor sabe que eu não sei?

Estou lendo um artigo em que vai ensinar a ver nas entrelinhas do que Platão ensinou o que ele tinha compreendido a mais e não nos falou. E esta hermenêutica poderá ser usada em todas circunstâncias em que aprendemos. O que é a mesma coisa que dizer, sempre.



publicado por joseadal às 02:20
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