Sábado, 10 de Novembro de 2012

Danado, arrancou-me uma lágrima!

Em Tenda dos Milagres, Jorge Amado fez de  Pedro Archanjo o personagem central que teve em seus braços muitas mulheres, mas só ficou sabendo de dois filhos seus. Um com uma finlandesa fazendo turismo em Salvador e que lhe mandou uma foto do belo mulatinho de olhos verdes andando num chão coberto de neve. Outro, de uma bela negra que lhe entregou o menino, dizendo: “Só fala em leitura e contas, não posso torcer o destino, mudar a sina do moleque, trouxe-o para você educar”.

("o tempo não para, não, não para": Cazuza; aqui um momento, na linda floresta da Tijuca, que não deu para segurar, foi na corrente; as três netas, o casal de filhos, a nora, e aquela que ainda segura a varinha mágica que mantêm todos juntos, Lili) 

  

Tadeu cresceu estudando muito e trabalhando como aprendiz na gráfica de tio Lídio Corró, amigo inseparável de Archanjo. Tornou-se engenheiro no Rio de Janeiro e anos depois volta a Bahia. Os dois amigos conversam:

“- Meu compadre, você sabia que Tadeu chegou, está na Bahia?

- Tadeu Chegou? Quando?

- Quando não sei, mas já tem dias. Está em casa da família da Lu...

- Família dele, meu bom. Não é genro do coronel?

- Nem apareceu por aqui...

- Vai aparecer, com certeza. Chegou, tem coisas a tratar, passeios a fazer, parentes a visitar.

- Parentes? E você, também não é?

- Sou parente de todo mundo. Se fiz filhos não fiquei com nenhum, meu bom. Olhe! É falar no diabo e ele aparece! Seja bem vindo Tadeu!

- Está um lorde.

- Na minha posição devo apresentar-me bem vestido, senhor Lídio.

Pedro Archanjo considerou com os olhos de amizade o importante senhor de pé em sua frente. Lembrou quando Dorotéia o trouxe, tinha quatorze anos, dizendo: não posso mudar a sina do moleque.

- Soube que os senhores tiveram um prejuízo. Como posso ajudar? Tenho um dinheiro meu, reservado para a viagem que vou fazer com Lu pela Europa.

- Guarde seu dinheiro, Tadeu. Nós não precisamos de nada.

- Bem, agora tenho de ir.

Após os abraços, depois que Tadeu atravessou o batente da porta, Lídio se queixou:

- Ficou tão pouco!

- Lembra, amigo, fomos nós que o ajudamos a chegar onde chegou. Deixe-o ir. Não podemos torcer o destino, parar o tempo, impedir que Tadeu continue sua subida, compadre Lídio".

A gente cria os filhos para a vida, para o mundo, mas é triste quando eles têm tempo para tanta coisa menos para nós.



publicado por joseadal às 12:09

Leia com cuidado para não dar um nó em sua ideia.

“O nada não é compreendido como nada, senão na sua relação com alguma coisa. Ele supõe sempre a existência de tal relação e, portanto também a existência de alguma coisa”.

Minha neta, Lívia, disse-me desafiadora: Deus não existe!

Agora releia o que disse o filósofo Artur Schopenhauer: “O nada supõe a existência de alguma coisa”. O filósofo Emanuel Kant designava a oração da menina como um nihil privatium. O que minha neta quis dizer, meio como para declarar que não gosta do jeito que o avô dela pensa e faz, é que ela acredita que há algo, o existe, mas não que haja Deus.

Ela podia ter blasfemado pior [Deus deve bem sorrir da desfaçatez dessa garota abusada que ainda vai ter muito a viver e precisar tanto dEle], dizendo: Deus é nada. Uma afirmação dessa Kant chamava de nihil negativum, “É uma simples combinação de palavras, um exemplo de algo impossível de pensar-se”. Pois, afinal, me levaria a perguntar a ela: E o que o Nada, que você diz que Deus é?

Mas este capítulo final do livro O Mundo como Representação e Vontade, lembra que estamos presos ao mundo de matéria: “Este mundo, esta vontade somos nós mesmos; aquilo que é universalmente admitido como positivo, aquilo que se diz existente em realidade é precisamente o mundo da representação e o espelho da vontade”.

Hoje, é universalmente admitido que temos de viver intensamente. A velha impossibilidade de "assobiar e chupar cana ao mesmo tempo" foi desmentida por homens e mulheres que fazem cada vez mais coisas, quatro ou seis, concomitantemente. A mente não aguenta, nossa pisque não consegue acompanhar tudo. Alguma coisa vai ficar mal feita, ou uma coisa muito preciosa pode ser esquecida fatalmente.

O filósofo nos ensina este caminho precioso que pode não nos dar o mundo todo ou nos fazer um conquistador tremendo e tamb ém um perdedor da coisa mais importante, da vida, nossa ou de um ente querido: “Todavia, desviemos o olhar por um momento do nosso horizonte em demasia limitado; levantemo-lo até aqueles homens que superaram o mundo, cuja vontade, atingida a perfeita consciência de si, renunciou-se livremente a si mesma; então, em lugar desse tumulto de aspirações sem finalidade, em lugar dessas passagens continuas da alegria à dor, em lugar dessas esperanças sempre insatisfeitas e sempre renascentes que fazem da vida humana um sonho inalcansável, veremos essa paz que é mais preciosa que todos os tesouros da razão, essa calma absoluta do espírito, essa quietude profunda, essa segurança, essa serenidade imperturbável”.  

Tiremos tempo para ler a vida e o exemplo dos santos. 



publicado por joseadal às 00:53
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