Desde pequeno fomos assombrado com a escolha do apóstolo Judas Iscariotes: vender o seu mestre e então se matar. No livro A Romana, de Alberto Moravia, lendo as derradeiras páginas, encontrei estas duas referências a este ato. “Matar-se juntos parecia-me a conclusão digna de um grande amor. É como cortar uma flor antes que murche no pé; como fechar-se no silêncio depois de ouvir uma música sublime. Eu já havia pensado várias vezes nessa forma de suicídio que freia o tempo antes dele corromper e aviltar o amor, e que se busca e executa mais por excesso de felicidade do que por não poder suportar a dor. Nos momentos em que amava com demasiada intensidade, a ponto de temer não conseguir amar em seguida da mesma forma, a ideia desse suicídio a dois me ocorria naturalmente. Mas como penso que ela não me ama tanto a ponto de desejar acabar com a vida, nunca lhe falei nisso”.
Será então o querer e fazer dar cabo da própria vida o resultado último de uma dor intensa?
Então, na contra capa encontrei um pensamento que escrevi da vez anterior que o li: “Estou me sentindo como meu amor em certas noites. O sono foi-se embora, voou pela janela para a chuva que cai. Meus olhos estão pesados, mas o espírito está alerta, crepitando como uma fogueira. Acabei de ler o jornal e estou com um monte de notícias na cabeça: os deputados e senadores aumentam seus salários e vantagens descaradamente; o Japão sofreu um forte terremoto, quantas pessoas não estarão agora mesmo vivas sob os escombros; Castilho o grande goleiro da seleção suicidou-se deprimido. Noite cheia de questões e dúvidas. Que vale que com a chegada da luz do dia virão as certezas e o trabalho. 19/01/1995, Paraty, Adal”.