Em minha casa tenho três pias de mármore e uma de louça, mas já morei, na Bahia, em uma meia água com uma minúscula pia e me vendo num espelho pequeno pendurado de um prego. E foi uma época muito feliz de minha vida com a esposa e filha. Aquela penúria teria sido perfeita não fosse uma crise espiritual que eu atravessava. Digo isso porque fiquei refletindo nessa passagem do livro que eu estou lendo (p. 191):
“ – Hercule afirma que com a ajuda de mais alguns amigos poderia abater nos próximos meses muitos pinheiros e fazer tábuas que renderiam algumas centenas de dólares.
- Para que nos metermos no negócio de madeira?
- Para quê? – tive vontade de dizer: para se arranjar algum dinheiro para tornar a igreja mais decente, pois está em condições miseráveis, e para se ter pão na despensa e carne na mesa! Mas a serenidqade abnegada que via nos olhos do padre Ned me amainou o entusiasmo.
- Obrigado pela sugestão, padre.
E nada mais disse. A maneira gentil com que aquele ponto final foi colocado no assunto me comunicou uma verdade espiritual mais profunda do que conseguiria aprender com São Francisco de Assis. Percebi que o pároco possuía uma confiança serena e autêntica em bens que ladrões não podem levar nem a ferrugem corromper. Era um homem que se recusava corajosamente a sobrecarregar sua alma com tesouros perecíveis”.
Mais adiante, nessa história, vi que as coisas foram se arrumando devagar, não no tempo que o jovem padre queria, mais no tempo sem pressa e sem a competição mundana que é o de Deus.