Você que é desta era pós-moderna é uma alma que não suporta o sofrimento. Se pudesse trabalharia menos e em ambiente bem refrigerado, torcendo para chegar logo sexta-feira para sábado ir a uma balada e domingo a um churrasco.
- Já consegui chegar neste ponto, Zé.
Santa Tereza D’Ávila diz em Castelo Interior:
“Nem todas as almas serão, levadas por este caminho, ainda que duvide que vivessem livres de trabalhos cá da terra, de uma maneira ou doutra”.
Também me organizei de modo a ter uma vida tranquila, mas o sofrer veio me encontrar. A santa diz que o sofrimento não avisa quando vem (p.57):
“Se o entendessem antes, seria dificultosíssimo o poder sofrer, nem se resolvesse a passar por isso, por maiores bens que se lhe representassem, salvo se tivesse chegado à sétima morada; pois aí já nada se teme que seja de molde a impedir a alma de se arrojar deveras a sofrer tudo por Deus. E a causa é porque está quase sempre tão junto a Sua Majestade, que daí lhe vem a fortaleza”.
O sofrer conta com um aliado poderoso para nos derrubar: o nosso orgulho. Juntos são capazes de nos perder do amor de Deus (p.25):
“Por mais determinadas que estejam em não ofender o Senhor, semelhantes pessoas procederão com acerto, não se metendo em ocasiões de O ofender; porque, como estão perto das primeiras moradas, com facilidade poderão voltar a elas, porque a sua fortaleza não está fundada em terra firme, como os que estão já exercitados em padecer - estes conhecem as tempestades do mundo, e quão pouco têm a temer - e seria possível, com uma grande perseguição, voltarem de novo a eles. O demónio bem as sabe urdir para lhes fazer mal, e poderia suceder que, não pudessem resistir ao que a isto sobreviesse”.
Ainda assim, não invejo as baladas e os churrascos a que você vai.