Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014

Ajude-me, por favor. É para pensarmos juntos um assunto.

Você já deve ter ouvido esses dois versos: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta” – Primeiro Canto de Os Lusíadas, de Luís de Camões. Quero falar desse trecho, “outro valor mais alto se alevanta”. Que valor mais alto levantou-se agora?

Continuando a ler Mitologia Grega (vol II), li: “Fatigados pelo ecletismo e abatidos pela dúvida, buscaram os espíritos novos processos de conhecimento” (p.198). Refere-se a humanidade cem anos após a morte de Jesus. “Já não podia satisfazer o desejo de adorar, o Panteón despovoado”. Os muitos deuses herdados dos gregos não eram mais levados à sério. Surge um modo de adorar denominado Neoplatonismo. Era a volta a um monoteísmo mais avançado. O Professor Junito S. Brandão, explica o que acreditavam, então: “Acima de toda criação eleva-se o Uno, o ser Supremo, o Absoluto. Emanou dEle por meio da Palavra, O Logus, tudo que existe, em formas dessemelhantes e individualizadas.” Mas essa expansão tem de retornar a Ele, tudo precisa voltar a ser Uno. Isso acontece a longo prazo, como foi a expansão, e individualmente. “A reintegração dos seres ao Uno acontece pela catarse ou purificação, e em duas etapas. Pelo diálogo o indivíduo se desliga de tudo o que é sensível [matérial] buscando a contemplação de ideias. Depois, pela contemplação se despoja da própria personalidade”. Esse voltar ao Uno não é moleza, mas é essencial: “Nesse retorno místico da alma individual ao Absoluto indivisível consiste precisamente a felicidade suprema do homem”. Estamos entendidos até aqui? Mas antes do problema, mais um detalhe. No livro O Amor da Sabedoria Eterna, do padre Luís de Montfort (1673-1716) ele cita um aviso de Jesus para quem quiser trilhar esse feliz caminho da volta a unidade. “A Sabedoria Eterna é doce, atraente e sublime. Ela convoca os homens para lhes ensinar o método de serem felizes. Jesus ensinou: Aí de vós, ó ricos... é muito difícil para um rico entrar no reino dos Céus”. Provavelmente tem a ver com o desapego aos bens materiais, ponto esssencial na busca da individuação. Agora o problema. 

Na década de 1970 vários pastores perceberam que as pessoas queriam adorar a Deus, mas não dispensavam ter muitos bens materiais. Esses guias espirituais, pensando em ser ouvidos e seguidos, optaram por falar o que o povo queria ouvir e começou a grande evangelização que punha o Ser Uno, Nosso Criador, a prova. "Tragam o dízimo todo ao depósito do templo. Ponham-me à prova", diz o Senhor dos Exércitos, "e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las” - Malaquias 3:10. O mundo mudou, as mentalidades se transformaram e a procura da volta a unidade com Deus, acabou?



publicado por joseadal às 23:39
Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014

Você pensa como a médica Fátima Oliveira? “Eu não tinha a dimensão do ódio de classe contra o Bolsa Família. Supunha que era apenas uma birra de conservadores contra o PT ou algo do gênero, jamais por ser contra pobre matar a sua fome com dinheiro público”.

Os herdeiros dos passeios pelos shoppings não viram isso que José Américo de Almeida conta em A Bagaceira (p. 76): “Ele forcejava em interessar o coração de Soledade na assistência social aos moradores da fazenda de cana-de-açúcar. Entravam nas bibocas e ela nauseava. Santo Deus! Os guris lazarentos embastidos [cobertos] de perebas não paravam de coçar as sarnas eternas e pareciam laranjas onde enfiaram dois palitos. Mas não choravam, não sabiam chorar. Soledade saia aos engulhos. Não havia choça paupérrima que não tivesse um cachorro gafo. Era o sócio da fome. Os pobres só comiam capim, pastavam como carneiros. Mordiam a própria perna como se fosse um osso para roer”.

Não precisa ir numa morada assim, mas não me fique criticando o bolsa família. “Pois os pobres vocês sempre terão consigo, mas a mim vocês nem sempre terão" (João 12:8).

É Jesus te dando um puxão de orelha, te ensinando a viver; porque a vida é uma escola.



publicado por joseadal às 23:50
Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2014

É possível abandonar tudo que se acreditava e se tornar um novo homem? O romance, Sr Mani, conta a experiência de um jovem soldado alemão que desce de paraquedas na ilha de Creta. Cai em cima de uma oliveira perto de uma casa, para ela se dirige e conhece a família. Sua missão naquele front era de um SS, descobrir e matar judeus. Ele conversa com as pessoas da casa sem reconhecer que são judeus. Muito tempo depois, conversando com a avó sobre este incidente, diz: “- Não, não tinham nenhum vestígio. Nem chapéu nem cachos de cabelo atrás das orelhas. Não, eram pessoas absolutamente comuns. Só, mais tarde, é que despertei repentinamente do meu sono no meio da noite e disse: certamente eles são judeus. Acordei-os e examinei suas carteiras de identidade... Não, vovó, não se menciona na identidade se a pessoa é judia, árabe, turco ou inglês. Mas dizia que o local de seu nascimento era Jerusalém. Porém, não senti que fossem meus inimigos, mas apenas obstáculos que é preciso tirar do caminho. Naquele momento, vovó, eu estava a ponto de atirar nele, mas sem raiva ou ameaça, mas olhando diretamente nos seus olhos, disse lentamente: então, o senhor é judeu. Então, vovó, este civil se empertigou e erguendo um olhar direto, começou a gaguejar: sim, fui judeu, mas deixei de ser... cancelei isto. Então, em alemão fácil eu lhe provoquei: e quanto a Jerusalém, o senhor também a cancelou? E começou a gaguejar para mim estas palavras: sim, já estivemos em Jerusalém, mas já deixamos de estar. Então, vovó, enchi-me de alegria.”

Esse jovem alemão tinha, retinindo em seus ouvidos, um aviso do Fuhrer: ‘muito cuidado com o perigo do judeu dentro de cada um de nós alemães’. Ele tenta explicar para a avó: “Talvez, justamente por isso, eu cheguei àquela ilha solitário vindo do céu, para saber se é possível voltar ao ponto inicial e ser novamente apenas um ser humano, um homem novo, que cancelou a casca da história que se apegou a ele como escamas feias, e possamos continuar nosso caminho vovó”. Ela, retrograda, não entende o neto: 'ele enganou você, este civil, esse judeu maldito, que tentava escapar do seu destino’.

E então, você pensa como o jovem SS: o homem pode mudar e ser uma nova pessoa, ou acha como a velha vó que: ninguém consegue deixar tudo o que fez e creu, para trás?  



publicado por joseadal às 22:23
Sábado, 15 de Fevereiro de 2014

“Como você se vê?” Esta pergunta serve de base a um capítulo do livro A Luta Contra a Depressão, o que fala sobre a imagem que fazemos de nós mesmos. Quanto mais vivemos mais chances tivemos de errar, fracassar e perder. “Não fique pensando nos seus fracassos, nas ofensas que sofreu, nas fraquezas que carrega e nas perdas que teve”, (p.144). É difícil, é preciso ser persistente e vigilante para não mantermos uma imagem errada sobre nós mesmos, a de perdedores.

Isto vale tanto para um indivíduo quanto para um povo. Em outro livro, Sr. Mani, o autor israelense fala da condição dos judeus na Palestina (p.147): “Durante algum tempo todo o passado diaspórico (os judeus espalhados por cidades do mundo inteiro) do povo judeu, especialmente os períodos mais negros de perseguição e extermínio, incluindo o Holocausto, foi rejeitado em Israel. Enquanto fonte de vergonha e de uma identidade oprimida e trágica, era preciso que fosse esquecida e transformada em outra imagem, a de um ‘homem novo’. Por assim dizer era preciso, que os judeus se vissem fortes e vencedores.

Eram aqueles que se lançavam corajosamente à maior aventura coletiva do século, a de reconstruir uma nação praticamente do nada”. Tem tudo a ver a imagem que fazemos de nós mesmos.



publicado por joseadal às 18:44
Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2014

Depois de um dia após outro de intenso calor, as preocupações nos assomam. São imagens que projetamos, ideias que vem de nosso subconsciente, e quase sempre são ruins. Esse solzão é uma evidência do fim do mundo ou a culpa dos humanos pelo aquecimento global que vai acabar com a gente. Mas no livro A Bagaceira, terminado de ser escrito em 1928, um personagem do sertão fala de dias quentes como os que estamos vivendo:

“- Naquele tempo fazia gosto o sertão. Só este seu criado tinha pra mais de cem vacas de ponta serrada e muito boi erado. E era um fazendeiro chué. Foi quando veio o verão de 1877.

Minudenciou, em seguida, na sua linguagem brasileira, esse esfacelo da população que se finava de pura fome no país das engordas forasteiras.

-  Fiquei na estica, mas por vontade de Deus não pedi nem roubei. Com o tempo fui levantando a cabeça, me endireitando, foi quando apertou a de 1888. Fiquei puro outra vez, no ora-veja. Os raios de sol pareciam labaredas soltas ateando a combustão total. Um incêndio que ardia de cima para baixo. Até as nuvens eram vermelhas, como chamas que voassem. O sol que é pra dar o beijo da fecundidade dava um beijo de morte, longo e cáustico, como um cautério monstruoso. As sombras ferviam, como um cinzeiro em brasas. As noites tostavam. O dia era um derrame de luz, parecia que o sol fulminante derretia-se nos seus ardores. Quando ventava era um sopro do inferno. Durante anos a fio, uma gota d’água que fosse não refrescava a queimadura dos campos. Vi, com esses olhos que a terra há de comer, um passarinho sob a última folha de uma umburana, como debaixo de um guarda-sol. Aí a folha caiu e o passarinho abriu o bico e também caiu. Como era feia a natureza ressecada na sua nudez de pau e pedra!”

“O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós” - Eclesiastes 1:9-10.



publicado por joseadal às 00:53
Sábado, 08 de Fevereiro de 2014

Ainda, sobre tristeza. É, comecei a ler um livro sobre o nordeste que é muito intenso, A Bagaceira, de José Américo de Almeida (P.16): “Em sua sensibilidade contraditória, ria-se e comovia-se. Um retirante levava a mãe inválida escanchada no pescoço. Já tão falto de forças, acuado pela surriada vexatória, fraqueava. Desequilibrou-se e ambos, mãe e filho, caíram de borco, beijaram, sem querer, o que podia ser a Terra da Promissão”. O livro fala da triste situação de quem não pode suportar mais a seca no sertão e toma o rumo das cidades. Quem assiste essa cena é o filho de um fazendeiro, cuja casa-grande fica bem perto da estrada por onde passam os retirantes. Formado em Direito, tendo aprendido filosofia e sociologia sentia-se mal de ver tantas injustiças numa terra que devia ser tão dadivosa. Corre para a mata, tentando refugiar-se dessas cenas dantescas. Mas não lhe adiantou: “Internou-se a toa na picada onde costumava espairecer, forrando-se aos atritos amiudados. Na contemplação da mata virgem espiritualizava a natureza arbitrária. Mas, agora, já não se comprazia com o recesso acolhedor. Procurando uma impressão que lhe pacificasse o espírito a selva bruta só lhe deu ideais de conflitos. Árvores deitadas como homens cansados. Troncos tortos lembravam deformidades do corpo e os cipós pareciam enforcar troncos veneráveis. A sombra das copas altas não era mais protetora e viu uma árvore jovem insurgir-se contra a obscuridade buscando, angustiada, alcançar a luz”. O que parece ao ciclista, ao cruzar uma floresta, um lugar de ar puro e paz,

para quem está deprimido é assustador e feio. Diz a p.15: “Tudo cantava a sua volta, mas ele profanava com essa tristeza a alegria gritante da natureza tropical”. Como revela outro livro: “A alegria é santificante”.       



publicado por joseadal às 01:51
Sexta-feira, 07 de Fevereiro de 2014

Sempre me intrigou o suicídio, o intenso desamor a vida. Uma vez tentei ler o livro Diário de um Suicida, mas dava tantas voltas sem chegar ao âmago do assunto que foi um dos poucos livros que não terminei. A bem da verdade, mal comecei a ler. Mas no livro Sr. Mani, deparei com este trecho (p. 128) que me revelou muito sobre esta catástrofe pessoal.

”Mani começou a apresentá-la a todos. Apresentava-a com uma estranha elegância, para os amigos e os vizinhos, anunciava-a com admiração, como um objeto precioso. Mesmo tendo mais do que o dobro da idade dela, tratava-a com muita importância. Agora, quando me lembro dessas cenas, fico chocado com a minha cegueira. Porque, sem dúvida, já havia decidido se matar por ela. Por isso ela se tornou muito querida, não por ela mesma, mas por causa da catástrofe que, por causa dela, ele traria para si próprio. Essa importância que fora reservada a ela, consumiu-o de desespero e aumentou seu desejo de se destruir. Mas creio que minha irmã foi só um pretexto para seu suicídio. Ao que parece houve uma sucessão de perdas pelas quais passou. Seu ato não foi só um desejo obsessivo de auto aniquilamento, mas uma angústia a mais no amálgama de decepções na vida de Mani. Sendo uma pessoa importante em sua comunidade, a vergonha pelo fracasso de seu hospital somado a decisão de minha irmã de terminar com ele, pode ter-lhe parecido insustentável”.

 

No livro que eu e Lili estamos estudando, A Luta Contra a Depressão, diz (p.108): “Sua tristeza, qualquer que seja a razão, entregue-a a Deus em oração. Ofereça a Deus o seu cansaço, as suas preocupações, seus fracassos e depois sorria, para você mesmo e para os outros. Toda tristeza é auto piedade, aquela mórbida compaixão que faz você ter dó de você mesmo. A alegria do coração é um inesgotável tesouro de santidade. Assim, concentra teu coração em buscar a santidade e afasta-te da tristeza”. E do suicídio, logicamente.



publicado por joseadal às 00:34
Terça-feira, 04 de Fevereiro de 2014

Também em nossa relação com os índios, é verdadeiro o preceito: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. É o que diz um livro que leio, um ensaio da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, Índios no Brasil: História, Direitos e Cidadania.

“O direito dos índios às suas terras foi um princípio que vigorou desde a Colônia. Nesse direito não se mexia”. Isto estava claro, mas durante o Império uma nova visão dos índios mexeu nesta garantia: “Na Lei das Terras, de 1850, afirmava-se que os silvícolas estavam confundidos com a massa da população e isto deu ensejo a distribuição da terra que era deles há gerações”. Na história há dessas coisas, a luz recua e as trevas avançam. A autora conta que a coisa ficou ainda mais mal parada durante a Ditadura Militar. “Na época, 1978, o ministro do Interior, a pretexto de emancipar os índios de qualquer tutela, queria ‘emancipar’ as erras indígenas e coloca-las no mercado. A Sociedade Civil impedida de se manifestar em assuntos políticos desaguou seus protestos na causa indígena. Foi, com certeza, o avanço nas demarcações que deu impulso decisivo nessa mobilização popular”. O povo, contrariando interesses de novo empurrou para longe as trevas da injustiça aos mais fracos. Mais luz jorrava sobre o assunto: “Um tema novo surgiu durante a Convenção da Biodiversidade, em 1992, reconhecendo os direitos intelectuais dos povos indígenas sobre seus conhecimentos ancestrais. O que realmente mudou é que ser índio deixou de ser algo com que se envergonhar e as comunidades indígenas reemergiram e aumentou a sua população, de 250 mil em 1993, para 900 mil em 2010”. E uma nova visão do valor dos índios vem ganhando força: “O Censo do IBGE, de 2010, revelou que há 305 etnias indígenas que falam 274 línguas. Segundo o antropólogo Levy-Strauss, este é um capital inestimável de diversidade sociológica e de conhecimento. Não se trata de atribuir um valor superior ao conhecimento que eles detêm sobre o nosso, nem da importância de assimilá-lo e diluí-lo, mas de reconhecer o valor inestimável de se pensar de outro modo”.

Com a claridade forte da luz vamos reconhecer que o jeito índio de viver tem muito a nos ensinar.    



publicado por joseadal às 22:48
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