Sexta-feira, 30 de Maio de 2014

“Quem entra no deserto não pode voltar. E quando não se pode voltar só devemos ficar preocupados com a melhor maneira de seguir em frente. O resto é por conta de Allah – disse o guia da caravana”. Os dois rapazes que seguiam com a caravana tinham visões diferentes do que pode ajudar a viver melhor. Um disse: “Você precisa prestar mais atenção ao que acontece em sua volta. Verá que a caravana dá muitas voltas, mas ruma sempre para o mesmo lugar”. O outro retrucou: “E você devia ler mais sobre o mundo. Os livros são iguais às caravanas” – p. 117 em O Alquimista, de Paulo Coelho.

Chegaram ao oásis onde mora o Alquimista. O sábio vê a caravana chegando. As pessoas gritavam atrás dos recém-chegados, a poeira encobria o sol do deserto e as crianças pulavam de excitação. O Alquimista pensou (p. 145): “‘Quando os tempos andam depressa, as caravanas também correm mais’. Mas nada daquilo interessava ao Alquimista. Ele já havia visto muito gente chegar e partir pisando aquelas areias que sempre mudavam de forma por causa do vento. ‘Mas são as mesmas areias que conheci quando era criança’”.

 O mundo diz muitas coisas em uma linguagem que fala ao coração. Quando se anda de bicicleta longe das construções humanas o tempo parece andar mais devagar. Afinal, aquela pedreira perto do caminho tem milhões de anos, e a gente só umas míseras dezenas. A antiga rocha nos vê passar como já assistiu tantos caminhantes, cavaleiros, automóveis e sabe-se lá o que mais. De jeitos novos, os homens sempre se repetem: nascem, crescem, estudam e aprendem um ofício, namoram e casam, tem filhos e se separam (ou não), ficam doentes e evelhecem. Nem eu nem você inventaremos uma história nova que a velha pedreira já não tenha visto. 



publicado por joseadal às 12:54
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

Ontem, 25/05/2014, levando a pedalar pela primeira vez, a doutora professora de Odontologia, Trindade Igrejas, conversamos muito. Em determinado momento, em um trecho onde se ouvia o marulhar de uma cachoeirinha, comentei como o som era agradável. Ela acrescentou, sabiamente, que aquele som acordava antigas lembranças da infância. Então, começamos a trocar ideia sobre as informações guardadas em nossos neurônios, algumas parecendo perdidas por não as usarmos. Mas então – como dizia o palhaço Arrelia: não mais que derependente – um som, uma imagem, um cheiro, uma impressão na cútis ou na boca ressuscita aquela lembrança adormecida. Lindo, não é não? E tudo isso se fala pedalando. Não sei se num bar, com o vozerio em volta e um cara no violão querendo se impor a nossa atenção, conseguiríamos ir tão longe nessas boas divagações.

Estou falando tudo isso porque num livro muito difícil, A Religião de Jesus, o Judeu, no capítulo, O Emprego da Bíblia em seu Ensinamento, li: “Entre as declarações doutrinais atribuídas a Jesus, em várias, a prova conclusiva é tirada da história bíblica”. Se queria que seus ouvintes, na maioria pessoas sem instrução, entendessem o que ensinava, Jesus, lhes lembrava de uma passagem do Velho Testamento que eles conheciam bem, que fazia parte da cultura delas, e estava gravada nas suas sinapses. Como essa em Marcos 2:23-27: “E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas. Os fariseus lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito? Mas ele disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam? E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”. (para ilustrar uso esta pintura cheia de cor do artista Ney Tecídio - suas obras estão expostas na página dele, procure no Google)

As proibições e permissões do que se podia ou não fazer no dia de guarda, o sábado, eram tão complicadas que discutir-se o que os discípulos fizeram, colher espigas e comê-las cruas, se era lícito ou não, levaria tempo. Então Jesus mostrou a relativização dessa questão. Ele propôs: quem está com fome precisa seguir o mandamento ou não? Então, Ele os lembrou de uma história fartamente conhecida. Uma vez, fugindo da perseguição do rei assassino, Davi e seus homens estavam fracos de fome. Chegaram onde ficava o santuário – naquele tempo apenas uma tenda – entraram e pegaram pães que estavam no altar, haviam sido oferecidos e eram sagrados, e só sacerdotes podiam comer. E nem Deus nem os sacerdotes os condenaram. Desde aquele tempo já se desconfiava que "tudo é relativo". Pronto, uma passagem da velha Bíblia calou a boca dos que queriam discutir por discutir.



publicado por joseadal às 20:21
Sexta-feira, 23 de Maio de 2014

Coisa triste não é bom lembrar, mas no livro Operação Cavalo de Troia (p. 119) descreve a condição das mulheres judias – e de outros povos também – que faz uma mulher de hoje ficar horrorizada e ter ainda mais prevenção contra os homens do que já tem.

“O Nazareno tinha consciência da deprimente situação social da mulher e propunha-se melhorá-la. Nos estudos que tinham precedido a escrita de Operação Cavalo de Tróia, eu tivera a oportunidade de verificar que, na quase totalidade do Oriente - e Israel não era exceção - o papel da mulher na vida pública e social era nulo. Porém, os textos e documentos que eu manipulara na minha preparação estavam muito distantes da realidade. O desprezo dos homens pelas suas companheiras bradava aos céus. Quando a mulher judia, por exemplo, saía de casa - pouco importava para quê - tinha de levar a cara coberta, deste modo não se podiam ver os traços do rosto".

"Entre os Hebreus contava-se o sucedido com um sacerdote importante de Jerusalém que não chegou a conhecer a própria esposa [ela estava sempre velada, mesmo para o marido], ao aplicar-lhe a sentença prescrita para a mulher suspeita de adultério, o apedrejamento. A mulher que saísse do seu lar sem levar a cabeça coberta ofendia a tal ponto os bons costumes que o seu marido tinha direito e - segundo os doutores da lei - até o dever de repudiá-la sem ser obrigado a pagar-lhe a soma estipulada em caso de divórcio. Havia mulheres tão rigorosas que nem em sua própria casa se descobriam. A situação da mulher na casa não se via modificada, em relação a conduta pública. As filhas, por exemplo, deviam ceder sempre os primeiros lugares e - até a passagem nas portas - aos rmoços [as meninas de hoje dizem que os rapazes de agora estão voltando a esse mesmo comportamento]. A sua instrução limitava-se estritamente aos trabalhos domésticos, bem como o coser e o tecer. Segundo este código social, as filhas não tinham direito a possuir absolutamente nada, nem o pagamento do seu trabalho fora de casa. Tudo era do pai. A filha - até à idade de doze anos e meio - não podia recusar um casamento imposto por seu pai. Chegou a dar-se o caso de serem casadas com homens disformes”. Em outro livro que estou lendo, A Religião de Jesus, o Judeu, diz que essas informações, não mencionadas na Bíblia, são tiradas de A História dos Hebreus (Flávio josefo) e dos livros litúrgicos judeus: Mishná, Talmude, Tosefta, Targum e Midrash.

Jesus tratava as mulheres como a iguais, as compreendia e se preocupava com elas. Para quem tem fé Ele continua tratando-as do mesmo modo.



publicado por joseadal às 13:53
Quarta-feira, 21 de Maio de 2014

Se um dia os cientistas humanos conseguirem fazer uma máquina que nos leve através do tempo, para que época você gostaria de ir? No livro Cavalo de Tróia volume I, Jerusalém, descreve uma viagem pelo tempo até o ano 33 e.C, quando a Bíblia diz que viveu Jesus, que era conhecido como Cristo. Há muitos anos queria ler esse livro, mas só agora – no tempo certo? – meu sobrinho Maércio me mandou todos os oito volumes dessa saga. O escritor J.J. Benitz juntou dezenas de livros sobre aquela época: evangelhos apócrifos (livros sobre a vida de Jesus que não foram incluídos na Bíblia), obras de historiadores gregos e romanos e muitos livros da tradição judaica; além de usar descobertas arqueológicas sobre aquela época. Assim, a leitura desse livro nos abre novas visões sobre a obra de Jesus entre nós. A p. 123 descreve a entrada em Jerusalém no domingo anterior a Páscoa:

               “O Mestre, perfeito conhecedor das Escrituras, respondeu abertamente:

                - Assim era preciso, para que se cumprissem as profecias... 

                Efetivamente, tanto no Gênese (29, 11) como em Zacarias (9,9) se diz que o Messias libertador de Jerusalém viria do monte das Oliveiras, montado num burrinho. Zacarias, concretamente, disse: Alegrai-vos muito, ó filha do Sião! Gritai, ó filha de Jerusalém!, Olhai, o vosso rei veio até vós. É justo e traz a salvação. Vem como o mais humilde, sentado num burrinho, a cria de um burro.

                Pela hora sexta (o meio-dia), depois de um frugal almoço, Jesus - que tinha recuperado o excelente bom humor do dia anterior - pediu a Pedro e a João que seguissem à frente até à povoação de Betfagé.

                - Quando chegardes à encruzilhada dos caminhos - disse-lhes - encontrareis presa a cria de um asno. Soltai o burrinho e trazei-o.

                - Mas, Senhor - argumentou Pedro com razão -, e que devemos dizer ao dono?

                - Se alguém vos perguntar a razão por que o fazeis, dizei simplesmente: O Mestre tem necessidade dele.

                Pedro, muito habituado a estas situações desconcertantes, encolheu os ombros e partiu para Betfagé”.

               Tudo isso já estamos cansados de ler nos Evangelhos, mas o que diz a seguir são revelações descobertas em outros livros.

               “O Mestre, sem mais demora, deu ordem de partida para Jerusalém. Os gêmeos, num gesto que Jesus agradeceu com um sorriso, estenderam os mantos por cima do burro, agarrando-o pelo cabresto enquanto aquele gigante montava escarranchado, o Nazareno agarrou a corda que fazia às vezes de rédeas e bateu levemente no asno com os joelhos, incitando-o a avançar. A considerável estatura do Rabi obrigava-o a dobrar as compridas pernas para trás, a fim de não arrastar os pés no pó do caminho. Com todo o meu respeito pelo Senhor, a Sua figura, cavalgando daquela maneira o jumento, era um espetáculo meio ridículo meio cômico. Pouco a pouco, fui-me apercebendo que aquele, precisamente, era um dos efeitos que o Mestre parecia pretender. A tradição - tanto oriental como romana - estabelecia que os reis e heróis entrassem  nas cidades montados em garbosos corcéis ou em engalanados carros. Mas, que gênero de sentimento podia provocar no povo um homem de semelhante estatura, no lombo de um burrinho?

                Sem dúvida, uma das razões para entrar assim na Cidade Santa tinha de ser procurada numa ideia intencional de ridicularizar o poder puramente temporal. E Jesus ia consegui-lo. De início, tantos os homens do Seu grupo como as dez mulheres escolhidas por Jesus - e que se tinham unido à comitiva - ficaram desconcertados. Mas o Mestre era assim imprevisível, e eles amavam-No acima de tudo. E assim aceitaram o fato com resignação”.

               Então aconteceu algo inesperado para os discípulos: “Uma multidão que não se poderia calcular [vieram de muitos lugares para a festa da Páscoa em Jerusalém] fora se juntando de ambos os lados do caminho, saudando  e reconhecendo Cristo como o profeta da Galiléia. Os doze, que rodeavam estreitamente o Rabi  estavam estupefatos. O seu medo inicial pela segurança do chefe e do resto do grupo foi-se dissipando à medida que avançávamos. Centenas - talvez milhares - de peregrinos de toda a Judéia, da Pereia e até da Galiléia pareciam ter-se tornado repentinamente loucos. Muitos homens se despojavam dos seus roupões e estendiam-nos no pó do caminho, sorrindo e mostrando-se encantados à passagem do burrinho. Como uma só pessoa, mulheres, crianças, velhos e adultos gritavam e repetiam sem cessar: Bendito o que vem em nome do divino!... Bendito seja o reino que vem do céu!”

Eu gostaria de ter estado lá, e você? 



publicado por joseadal às 14:03
Domingo, 18 de Maio de 2014

Profecias são difíceis de entender, pois são passíveis de muitas interpretações. Mas essa, registrada pelo judeu Daniel quando vivia em Babilônia, parece bem fácil de entender (Daniel 9:25-26). “Sabe e entende, Daniel: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar a Jerusalém, até o aparecimento do Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas. E depois das sessenta e duas semanas o Messias será morto; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário”.

A cidade de Jerusalém passou por duas destruições. A primeira aconteceu em 607 a.C. Anos depois, em 455 a.C, o rei persa, Ciro, mandou reconstruir a cidade. Então, foi revelado a Daniel que se passariam 7 + 62 semanas ou 483 dias (que na profecia equivaliam, cada dia a um ano) ou 483 anos e apareceria o Messias. Isso significa o ano de 28 e.C. Foi quando Jesus chegou de Nazaré às margens do rio Jordão para ser batizado por João Batista.

No livro O Paradoxo da Serpente, afirma (p.58): “A noção filosófica grega impôs-se ao anúncio de Jesus e ao pensamento cristão. Tratava-se de um momento decisivo: as expressões do helenismo e do cristianismo ficaram frente a frente”. Desde o tempo de Daniel, uma linhagem de filósofos na Grécia, foi estudando e explicando o mundo e o homem. Assim quando Jesus ensinava que o Messias anunciado não seria um guerreiro, mas um Deus enviado de outro mundo, essa novidade incrível pode ser compreendida tanto por um pescador como por um estudante das Escrituras. Os gregos os haviam preparado antes. “Os judeus que se converteram a nova fé foram levados do culto a um deus tribal, exclusivo de Israel, a um espírito cósmico, ao Deus até então Desconhecido de todos os povos”.

Quem observa a historicidade humana, não a compreenderá bem se não tiver fé de que tudo o que acontece na Terra, é consequência de projetos por longo tempo amadurecidos.   



publicado por joseadal às 01:22
Terça-feira, 13 de Maio de 2014

“O imperador Cláudio fez expulsar de Roma uns judeus que causavam tumulto por causa de um tal Cresto” – Suetônio, em A Vida dos Doze Césares, livro escrito por volta de 120 d.C. O livro Paradoxo da Serpente, diz (p. 23): “Trata-se de uma das escassas referências sobre Cristo ou o Cristianismo em fontes clássicas dos dois primeiros séculos da Era Cristã. A passagem concorda com o relato dos Atos dos Apóstolos, na Bíblia, quinto livro do Novo Testamento, que diz (cap 18 vers 1, 2): “Depois disto partiu Paulo de Atenas e chegou a Corinto. Achou um judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), juntou-se a eles, e, como era do mesmo ofício de fazer tendas, ficou com eles, e trabalhava”.

- Zé, só tem esse pedacinho falando de Jesus? E ainda escreve errado o título de Nosso Senhor!

Nós cristãos de pouca fé, sofremos do mesmo dilema dos judeus: Se Jesus foi o Messias a tanto tempo esperado, não só pelos judeus mas por todas nações, por que não se falava dele em todos os livros daquela época? A parte cristã ainda entende que o Cristo veio para ser sacrificado, e os judeus que esperam-nO chegar como o grande rei que os levará a liderança mundial?!

Um artista colocou numa pintura triste esta indagação atroz: porque, fora uns poucos discípulos, o mundo não parou todo para ver Deus Logus andando entre nós? Foi Pieter Brueghel (1520-1569), o livro Mestres da Pintura diz: "Uma grande tensão envolve a pintura de Brueghel. Sua obra apresenta um homem interiormente violentado - ora temeroso do divino, ora indiferente". No quadro A Procissão ao Calvário

mostra que enquanto Jesus estava sendo crucificado, o mundo todo continuou cuidando de suas vidas sem se dar conta do momento supremo que acontecia. Estávendo o crucificado lá no centro da ação?

 

Mas como estar presente ou perceber o valor de um acontecimento vital? No Apocalipse tem uma aviso assim: "Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas". Difícil, não é? a gente pode estar sempre atento e no exato instante ficamos distraídos e somos "pegos com as calças nas mãos". Terrível. 

 



publicado por joseadal às 00:09
Domingo, 11 de Maio de 2014

“kuda kuda vy udalilis”, ária da ópera Eugen Onegin, de Tchaikovsk.  

https://www.youtube.com/watch?v=4mJyjq8JNAI

“Aonde, aonde foram os dias da minha juventude?” Essa reflexão é pertinente a pessoa que já vai em idade avançada. Mas nem sempre. Uma vez, mexendo em velhos documentos encontrei minha inscrição para o serviço militar e me vi olhando para minha juventude. Encarando o inteligente José que se preparava para fazer Medicina. Mais do que pelo belo topete dei um soluço de saudade. Não sou aquele jovem, meu Deus para onde foi José? Era tão cheio de sonhos, inocência e destemor. Que estranho ser é o homem, o humano que vive várias vidas em uma só. Quem, entre as pessoas que fomos, o criador que acompanha toda nossa existência irá escolher como seu preferido? Um dia desses, Lili, escolheu como muito próprio para curtir Elvis Presley. Vez por outra chegava perto dela para vê-lo interpretar uma canção das que gosto mais. E vi diversos Elvis. De fantasia branca, corpo bem feito e voz que emitia roucos inimitáveis em certas notas, cantando Suspicious Minds; o garotão se requebrando em roques ligeiros, como Hound Dog; o envelhecido gordo de movimentos lerdos produzidos pelas drogas, cantando Always On My Mind; e o jovem militar que encantava os soldados na Alemanha cantando suas baladas, como Love me Tender. Eu, mau juiz e sem qualificação para julgar quem quer que seja, prefiro Elvis, o que tinha se tornado pai recentemente. É esse aí:

http://www.youtube.com/watch?v=Wb0Jmy-JYbA.

Viu a exibição dele? Isso é que se chama pós-modernidade.

- Zé, lá vem você com filosofia.

No trabalho de mestrado do professor José Dimas Monteiro, encontrei essa “explicação” (p. 6): “Segundo Linda Hutcheon, a distância que separa o passado do pós-modernismo é assinalada pela ironia. Este ambiente do pós-modernismo é incrementado por uma forte peculiaridade, a paródia. Embora muitos críticos do pós-modernismo denunciem a ironia como anti-seriedade, Hutcheon acredita que talvez ‘...a ironia seja a única forma de podermos ser sérios nos dias de hoje.

As interrogações e as contradições daquilo que quero chamar de pós-moderno começam com o relacionamento entre a arte do presente e a arte do passado, e entre a cultura do presente e a história do passado." Elvis cantava seriamente, com perfeição, mas ao mesmo tempo nos brindava com sua voz de um modo debochado e irônico. Não é mesmo assim, o mundo em que vivemos?

- Zé, e a tal “aonde foi parar minha juventude”, de que você falava?

Sim, fico pensando: Qual dos vários José em um homem só, os que fui e o que sou, Aquele que governa tudo, tendo a seu lado e, ao mesmo tempo, dentro de Si, Jesus, Ele tem preferência. Numa séria conta de débito e crédito como anda o caixa de José? É, acho que a gente tem de dar graças por estar sempre mudando.       



publicado por joseadal às 14:46
Sexta-feira, 09 de Maio de 2014

Quem é muito apegado à realidade, ao mundo material – e quem não o é, se vivemos desde o nascimento até a morte cercado por tudo que impressiona nossos sentidos? – desconfia da formação de jovens sacerdotes. No livro O Vermelho e o Negro, de Henri-Marie Beyle, Stendhal (1783-1842)

um jovem inteligente e muito bonito, é levado a entrar para o seminário por algumas razões, menos a devoção (p. 245): “Entre os 322 candidatos, oito viviam em ‘cheiro de santidade’, tinham visões, como Santa Teresa e São Francisco de Assis; e estavam quase sempre na enfermaria. Três distinguiam-se por um talento real, mas o resto compunha-se de seres grosseiros, que não tinham bem a certeza de compreender as palavras latinas que repetiam durante todo o dia”. O jovem personagem pensava de si para consigo: “Em todas as profissões são necessárias pessoas inteligentes, mas a maioria é parva. Mas, enfim, sempre há trabalho para fazer. No tempo de Napoleão eu seria o sargento de cabos e soldados comuns, entre estes futuros abades serei vigário-geral”.

Ora, como seguir na adoração um guia meio cego?! Eu e você, que nos contamos entre pessoas inteligentes, como podemos ouvir um sacerdote ignorante de tantos assuntos que sabemos bem? Entretanto, leia mais um pouco: “Mas o que ele não sabia, era que ser o primeiro nos diferentes cursos: dogma, história eclesiástica, latim, filosofia, tornava-o, aos olhos dos mestres, um pecador magnificente. É a submissão do coração que é tudo para eles”. E se referindo a quem quase não tem fé, só um resquício dela, diz: “A Igreja Católica, vacilante, agarra-se ao papa e as piedosas cerimônias para impressionar o espírito dos mundanos”.

- Estou aqui pensando, Zé. Será que se vivesse no tempo que se seguiu a morte de Jesus, olharia para Pedro e diria: O que pode esse pescador ensinar a mim, doutor formado e empresário?!



publicado por joseadal às 11:55
Quarta-feira, 07 de Maio de 2014

"Existe um projeto eterno na mente de Deus. Deus quer realizar tudo racionalmente, de acordo com a tal ideia que formulou. A mente de Deus tem ideias sobre todo tipo de criatura possível de existir neste plano. Por isso, nesta concepção do que significa a vontade racional, Deus estará agindo sempre racionalmente, não importa o que ele cria. Para agir irracionalmente significaria agir cegamente e Deus só poderia fazer isso se não tivesse ideia do que estava criando. Um Deus Onisciente, necessariamente, não pode agir de outra maneira senão racionalmente” – John Duns Scotus, em Ordinatio.

Se a sua e a minha fé - ter certeza de que existe um outro universo onde está o Criador de todos os universos – forem tão miudinhas que nem se pode medir, falar da obra de Deus é jogar fora nosso tempo. Porém, se cremos um pouco – serve uma fé do tamanho de uma semente de pimenta – então dá para continuar. Scotus, sacerdote que viveu no final do século XIII, concentrado, abstraído de tudo e só, entendeu que num tempo muito longo no passado o Ser Eterno teve a ideia de criar um universo com 3 dimensões. Um lugar onde tudo tinha uma forma cúbica. Neste ambiente surgiriam no tempo certo seres à sua imagem, quer dizer com liberdade, consciência e vontade própria. Sua intenção é que tais criaturas o amem como ele os amou, mas mesmo com todo poder que tem Deus não quer forçar ninguém a amá-lo. Entretanto, Ele, o Grande Demiurgo não deixou nada entregue ao acaso, cada detalhe em trilhões de seres estava calculado. Mas sempre em dois sentidos: ser ou não ser; 0 ou 1.

“Quis que existisse, mas sempre de uma forma ordenada. E determinou um fim, o propósito final. Em seguida, escolheu os meios para chegar a esse fim. Tendo querido aquele fim, Deus teve que continuar a produzir os meios necessários para alcança-lo. Mas esta limitação – teve que – acaba por não ter grande significado, uma vez que há apenas um fim que Deus não pode deixar de querer, Ele Mesmo. Nada lhe ficou contingente; sejam anjos ou seres humanos, surgirem unicórnio [ainda não se conhecia os dinossauros] ou a restrição do Quinto Mandamento. Assim, Deus não está obrigado a querer qualquer coisa, a não ser ter seu projeto pronto”.

Quando eu ou você pensar em Deus, comecemos levando em conta o universo de 3 dimensões. Ele mede 13 bilhões e meio de anos/luz.

- Zé, isso é grande pra dedéu!

Sinto-me bem, de preferência com os olhos fechados, em pensar em Deus como tão grande que abarca tudo isso. Então é bom pensarmos como Scotus: “Deus não está obrigado a querer qualquer coisa”. Então, meu irmão, temer um tal Ser não é bobagem nenhuma. 



publicado por joseadal às 01:04
Terça-feira, 06 de Maio de 2014

Ainda o livro Paradoxo da Serpente p.266: “Paulo considera que o pecado conduz o homem a um estado de escravidão. Ele conclui que o pecado, mais do que escravizar, causa a morte”.

- Pecado, morte, isso é religião, não é não, Zé?

É uma consideração da obra O Desespero Humano, do filósofo Soren Kierkegaard que ensinou:

“A palavra Cristo significa ‘ressurreição e vida’”. Como Paulo ensinou na carta aos Romanos 6:22: “Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna”.

Quando conheci o grupo de jovens que se autodenomina Católicos aprendi que João Paulo II, em visita ao nosso país, declarou: “O Brasil precisa de mais santos. O Brasil precisa de muitos santos”. O que ele queria dizer é que não podemos nos omitir e continuar errando só porque somos “latinos”, “mestiços” ou “temos o sangue quente”. Esse homem que nasce e vive nos trópicos não pode continuar se desculpando e dizendo que “não existe pecado abaixo do equador”, precisa buscar a santidade. E vencer o pecado que cada um guarda dentro de si, tem que ser uma luta igual a dos que frequentam os AA: consegui, só por hoje.

Voltando a Kierkegaard: “O pecado é, desse modo, fraqueza ou desafio elevados à suprema potência. A tônica aqui recai sobre ‘estar perante Deus’”. (pintura do amigo Ney Tecídio - ele tem quadros lindos para vender, procure-o no Google)

Esse é o problema, fazer uma coisa de que se gosta, mas que é condenada pela ética ou pela religião é afrontar Deus, o Olho-que-tudo-vê. 


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publicado por joseadal às 03:29
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