Pensar é pegar uma idéia conhecida e examiná-la por outros ângulos.
No livro mais famoso de Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser ele examina um conceito muito conhecido
chegando a estranhas conclusões.
"Quando era garoto tinha um Antigo Testamento ilustrado e via nele o desenho do Bom Deus em
cima de uma nuvem. Era um velho Senhor com uma barba longa que quase escondia boca bem feita e eu dizia para mim: Deus tem boca... ele come, o que será que ele come? Se come tem intestino... Mas não levei esta idéia mais adiante, ela me assustava".
Jovem, ainda sem o menor preparo teológico, o personagem percebia a fragilidade da tese fundamental da
antropologia cristã, segundo a qual o homem foi criado à imagem de deus. Frágil porque das duas uma:
ou o homem é a imagem de Deus e Deus tem intestino, ou Ele não têm e, assim, não parecemos com Deus.
Então, ele leva este raciocínio mais além e entra por um caminho sombrio.
"Defecar é produzir cotidianamente o caráter inaceitável da Criação. Segue-se que entrar
em acordo com o conceito da Criação exige um mundo ideal onde a merda é nagada. Este
conceito estético se chama kitsch. É uma palavra alemã que apareceu no meado do século 19
para designar uma arte que exclui do campo visual tudo que a existência humana tem de sórdido".
O que significa dizer que para aceitarmos o mundo tal como é, torna-se imprescindível entender que
somos filhos (resultado) de uma evolução criativa.