“Á noite a sua escrivaninha se encontrava repleta de papéis, enquanto sua alma ansiava pela frescura da natureza e da solidão”. Esta reflexão aparece quase no fim (p.304) do livro As Sandálias do Pescador e tem a ver com liberdade.
Liberdade! Esta palavra remete à imagem de um pássaro voando. Poder ir para onde se quiser, poder estar em qualquer lugar, em qualquer tempo. Numa homenagem que recebi dos colegas, um banner enorme, a foto que mais me descreve é essa.
Estou bem no fundo da baia de Guanabara, recanto cercado de manguezais, com o recorte denteado da serra dos Órgãos lá do outro lado da baia. Fui parar ali, na companhia de um dos meus filhos, numa saída sem muito planejamento. A liberdade de ir e vir que todo ser humano precisa.
Mas acabo de ler um pedaço do livro A Cabana que nos alerta sobre as limitações da vida (p.85). Um homem cheio de dúvidas conversa com Deus:
“-Você sabia que eu viria?
- Claro que sabia.
- Então eu não estava livre para deixar de vir aqui?
- Não gosto que minhas companhias sejam prisioneiros. Quem está comigo é livre para se ir. Mas será que liberdade significa que você pode fazer qualquer coisa? Muitas coisas limitam a liberdade: a herança genética, seu próprio DNA, seu metabolismo corporal, doenças de sua alma, hábitos que criam caminhos sinápticos no seu cérebro e até questões quânticas [das energias que formam nosso corpo]. Todas são circunstâncias que o inibem e o amarram”.
Deus, que projetou o ser humano e acompanhou nosso desenvolvimento desde muito tempo, nos conhece bem e sabe que para se ter liberdade é preciso que se queira muito e se tenha coragem para sair do ninho seguro que se constrói em nossa volta. Mas vale as pena correr os riscos para escapar do sempre igual e ver o que há lá fora.