“A impressão que tenho, hoje, é a de que a infância, como
fase marcadamente distinta, está sendo esvaziada; mas também o mundo adulto
está, de certo modo, desaparecendo. O que todos querem ser é adolescente”.
Crônica é uma forma de literatura leve e do cotidiano. Este
comentário acima é do cronista Francisco Bosco. Sua visão do nosso mundo é que
a maneira que vivemos encurta a infância e está fazendo os adultos ter atitudes de adolescentes.
“A ideia de infância, para mim, é de uma fase da vida onde o
princípio de realidade está ausente. Nessa época a vida é ao mesmo tempo
misteriosa, sólida e enigmática”.
O garoto Zé não sabia quanto o pai ganhava,
tinha certeza de que não ia lhe faltar nada, aliás, nem se preocupava com isso.
A vida dele se resumia em ser bom na gude, em cortar pião dos outros, em pular
cerca para pegar frutas nas casas dos vizinhos e descobrir os limites da
paciência da mãe. A neta dele, Lívia, tem tanta responsabilidade, tantos
cursos, tantos horários para cumprir que não vejo a menina brincar. A outra neta, Pâmela, passou por tantos
problemas nos poucos anos de vida, viveu tantas situações insólitas, que amadureceu cedo demais.
- E esse negócio do adultolescente, Zé? Também é ruim?
(no alto da Bocaina gente grande, escolada, se enternece com um cogumelo pura fantasia)
Aí, não sei. Tenho que pegar a bike e sair por aí, sem lenço
e sem documento. E não me venha dizer que isto é coisa de adolescente.