Vi minha querida amiga Vera Marins só uma vez. Foi o bastante. Não esqueci mais a poetisa e vez por outra mergulho em seus versos.
Ontem, antes de dormir, foi em Loucura, do livro Inquietude:
Quando a alma nos escapa
Fica louca, desvairada.
Quer satisfações instantâneas,
Sai pelo mundo sem mapa.
Quer ações, quer experiências,
Quer prêmios imediatos.
Só lhe importa o hoje, o aqui, o agora,
O concreto, o prazer e a diversão.
Quer ser deus, invulnerável, poderosa.
Vira pura fantasia e ilusão.
Fica fútil, inútil, superficial.
Fica vazia, sozinha, esgotada.
Fica louca desvairada,
A alma que foge e escapa.
Tinha lida um pouco antes as palavras sisudas de um padre, irmão cristão que viveu, ensinou e apascentou almas por volta de 150 e.C.:
Penso que esse conselho sobre a temperança não é sem importância.
Irmãos, se renunciarmos a nossas paixões desregradas, dominamos nossa alma.
Negando-lhe seus desejos maus, teremos a misericórdia de Jesus.
Ajudemo-nos, então, um ao outro, de modo a salvarmo-nos todos.
Nossa alma sempre arranja um jeito de fugir. Mas não a deixe solta, traga-a de volta, domine-a. Afinal, somos homens ou sapos?