Segunda-feira, 15 de Outubro de 2012

Ainda não aconteceu comigo, acredito que nem com você, uma revelação tal como Ernesto Guevara teve. No filme Diário de uma Motocicleta, de Walter Salles, depois de deixar Buenos Aires para atravessar a América do Sul pelo alto dos Andes, o jovem estudante de medicina vê tanta pobreza e injustiça que toma uma decisão redical. Deixa para trás sua vida de aventuras para se juntar aos revolucionários cubanos. O que provoca isso no coração da pessoa? Encontrei uma explicação no capítulo Amor Puro e Piedade, no livro de Arthur Schopenhauer que estou lendo.  

“Vimos como a inteligência, quando haja penetrado em grau mínimo o princípio de individuação produz a justiça e, a um grau mais elevado, a verdadeira bondade, que se manifesta por meio do amor puro, ou seja, desinteressado, para com os outros. O homem perfeitamente bom coloca o indivíduo estranho e sua sorte no mesmo nível que para si mesmo”. Isto é a evolução humana que nos faz seguir a ordem de Jesus Cristo: Ame ao próximo como a ti mesmo. Mas o filósofo vai mais além:

(quando subi ao Pico da Bandeira fotografei essas belas e rudes flores dos altiplanos)

e

“Mais adiante a bondade não saberia ir, porque não haveria razões para preferir o outro a si próprio. Mas quando estão ameaçadas a vida ou a sorte duma sociedade humana, em semelhantes casos o caráter que haja alcançado a bondade suprema e a generosidade perfeita sacrificará inteiramente a sua felicidade e a sua vida pelo bem-estar dos demais”. Foi isto que Che Guevara fez.

- Zé, coloque essa experiência em palavras inteligíveis: o que faz alguém amar mais aos outros do que a si mesmo?

O filósofo completa: “Assim, pois, do que nos compadecemos é do destino da humanidade inteira, por cuja condição efêmera qualquer existência, por mais ambiciosa e por melhor que seja, está condenada a extinguir-se e reduzir-se a nada. Ora, nesse destino da humanidade se reconhece antes de tudo o destino próprio”.

Em sua maneira guerreira de ver a vida, Che disse: “Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário”.

Nas pequenas cidades ainda é comum os sinos repicarem por alguém que morre, e se quem ouve é alguém evoluído ao ponto de amar aos outros mais do que a si mesmo, essa pessoa diria o mesmo que escreveu em versos o poeta inglês John Donne (1572-1631): “E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.  



publicado por joseadal às 18:41
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