No Segundo Caderno, de O Globo, falando do artista Di Cavalcante conta que quando morou na França visitou Picasso e Matisse e estudou Tissiano, e cita-o: “Paris pôs uma marca na minha inteligência. Foi como criar em mim uma nova natureza, e o meu amor à Europa transformou minha vida criando um vivo interesse a tudo que é civilizado e me fez procurar conhecer melhor minha terra”.
Sua pintura ganhou intensidade retratando o povo comum. Sim, buscando saber mais a vida muda.
Li isto em Fernão Capelo Gaivota, livro que um amigo insistiu que lesse. Conta de uma gaivota que procurava descobrir todas as capacidades que suas asas pudessem lhe dar.
“Naquele dia continuou a voar até depois do pôr-do-sol. Descobriu o loop, o rolamento de ponta, o parafuso invertido e a folha seca. Ao reunir-se ao bando na praia já era noite. Sentia-se horrivelmente cansado. ‘Quando eles souberem do meu sucesso, pensou, vão ficar doidos para aprender. Quanta coisa mais há agora para viver. Em vez de nosso monótono voo de ida e volta até os barcos de pesca, há agora outras razões para viver. Podemos nos erguer de nossa ignorância’”.
Assim se sente o neófito, o aprendiz. Mas os outros não pensam assim.
“As gaivotas foram convocadas para uma reunião. ‘Fernão, ao centro!’ Ao centro implicava ser humilhado ou engrandecido. ‘A vida é o desconhecido. Fomos postos neste mundo para cumprirmos nossas responsabilidades. Por afoita irresponsabilidade de querer violar a tradição das gaivotas estás banido do nosso meio’. Voou para muito além e sozinho aprendeu mais a cada dia”.
(a beleza de São José das Três Ilhas, logo depois de Valença)
Andar com o bando é muito bom, mas não se pode rejeitar o que acreditamos.