Segunda-feira, 09 de Junho de 2014

Não se pode viver só. “Sobre o conceito de identidade” – diz o livro Devoção e Identidade, da professora de História, Daniela dos Santos Souza (p.18) - “as próprias pessoas escolhem alguns sinais que as identificam no ambiente, que, por sua vez, serão implicados na manutenção da sua fronteira étnica,na medida em que os atores usam identidades étnicas (língua, costumes, religião, região, etc.) para categorizar a si mesmos e a outros, com objetivos de interação, eles formam grupos étnicos no sentido organizacional”.

Quando pedalei até Piedade do Rio Grande, assisti as danças da Congada e Moçambique e me relacionei com os negros que participam daquela irmandade, fiquei louco para entender por que eles se juntavam numa agremiação assim. E fui buscar respostas nos livros.

No século XVII o Brasil ainda era uma grande selva em que as Bandeiras dos paulistas procuravam desbravar. Perto de 1700, um deles construiu uma casa/armazém no local que hoje é São João Del Rei. Três anos depois descobriram ouro ali em volta e, com mais três anos formou-se um arraial. O ouro ajudou a construir a igreja dedicada a N. Sra. Do Pilar. Portugueses, mestiços deles com índias e negros trazidos da África frequentavam a mesma igreja e nela procuravam seu grupo. “Nossa Senhora do Rosário foi escolhida como padroeira dos negros que se estabeleceram no início do antigo Arraial de Nossa Senhora do Pilar, depois de construída a primeira capela, ainda na primeira década do setecentos. Por volta de 1720, novas devoções foram estruturadas na igreja – São Benedito, Santo Antônio de Catalagerona e Nossa Senhora dos Remédios – dois santos negros e uma branca”.

Os grupos organizados chamavam-se Irmandades. A dos negros foi formada primeiro, em 1708. Os brancos portugueses organizaram a sua – dedicada ao Santíssimo Sacramento – em 1711. As irmandade produzia a festa do santo, cuidava de seus filiados e angariavam fundos para a construção de uma igreja para seu santo de devoção.

Uma irmandade era ao mesmo tempo um clube, uma congregação para adoração e uma instituição de ajuda mútua.

Nós humanos sempre buscamos a união e com ela a proteção. 



publicado por joseadal às 01:17
Sábado, 07 de Junho de 2014

Depressão é uma doença antiga, já aparece no livro A Cidade e as Serras, obra de 1901. O personagem Jacintho, homem rico, foi prostrado por ela.

“Não se ocupara mais das suas Sociedades e Companhias, nem das Religiões Esotéricas, nem do Bazar de Caridade Espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam sobre a mesa d'ebano, d'onde o empregado as varria tristemente como o lixo duma vida finda. Também lentamente se despegava de todas as suas convivências. As paginas da Agenda cor de rosa murcha andavam desafogadas e brancas”.

Ficou curado quando deixou a cidade e foi para roça, para perto da Natureza. (como eu e o amigo Pedro Raimundo chegando em Madre de Deus)

“Sentamo-nos nos poiaes da janela, contemplando o doce sossego crepuscular que lentamente se estabelecia sobre vale e monte. No alto tremeluzia uma estrelinha, a Vênus diamantina, languida anunciadora da noite e dos seus contentamentos. Jacintho nunca considerara demoradamente o céu do anoitecer. E este enegrecimento dos montes que se embuçam em sombra; os arvoredos emudecendo, cansados de sussurrar ao vento; o cobertor de nevoa, sob que se acama e agasalha a frialdade dos vales; um toque sonolento de sino que rola pelas quebradas e o segredado cochichar das aguas no riacho eram para ele como iniciações. Daquela janela, aberta sobre as serras, entrevia uma outra vida, que não anda a que anda cheia do Homem e do tumulto da sua obra. E senti o meu amigo suspirar como quem enfim tirava de cima dos ombros um grande peso”. (entardecer perto de Piedade do Rio Grande, quase hora da missa que íamos assistir)

Sinto o mesmo, quando saio de bicicleta do asfalto da cidade e corro por sobre o saibro de uma estradinha vendo pastos e matas, rios e cachoeira. É a paz da obra de Deus.



publicado por joseadal às 02:19
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